Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas, a soma das doses aplicadas contra a covid-19 até o momento em toda a África – continente com 54 países – representa somente cerca de 13% do total de vacinas utilizadas nos Estados Unidos em sua campanha contra o novo coronavírus.
A comparação coloca em evidência algo que autoridades de saúde africanas alertam há alguns meses: as vacinas não estão chegando em quantidade suficiente ao continente, ao passo em que países mais ricos estão com estoque de doses.
A escassez de vacinas contra o coronavírus na África faz com que haja países do continente que ainda não começaram a vacinar, como, por exemplo, Tanzânia, Burkina Faso, Burundi e Eritreia, além da República Árabe Saaraui Democrática, região atualmente ocupada pelo Marrocos.
Segundo o levantamento compilado pelo site Our World In Data, com dados disponibilizados pelas autoridades africanas e norte-americanas, até esta quinta-feira (10/06), a África registrou a aplicação de 40,93 milhões de doses distribuídas por todo o território do continente.
Os Estados Unidos, por sua vez, administraram 305,69 milhões de doses de vacinas contra novo coronavírus em sua população.
Ainda de acordo com os dados oficiais, 42,33% da população norte-americana já está totalmente imunizada, com uma ou duas doses (a depender da vacina utilizada). Esse número representa cerca de 141,58 milhões de pessoas. Do outro lado, apenas 0,81% do bilhão de habitantes de toda a África foi imunizado completamente, um contingente de 10,83 milhões de pessoas.
Também é possível analisar a diferença entre as regiões a partir do número de pessoas que receberam pelo menos uma dose dos imunizantes. Desde o começo do ano, o continente africano vacinou com ao menos uma dose 29,49 milhões de pessoas – 2,2% da população.
Com a campanha de vacinação ativa desde dezembro de 2020, os Estados Unidos vacinaram 172.42 milhões de pessoas com a primeira dose – 51,56% dos habitantes. Ou seja, se considerarmos apenas a primeira inoculação, a desvantagem africana continua evidente. O continente aplicou apenas 17,1% do total de vacinas que os EUA já aplicaram como primeira dose.
Doses diárias
Ainda de acordo com o levantamento da Our World In Data, entre 4 e 10 de junho, o continente africano superou os EUA no número absoluto de doses diárias injetadas. No domingo (06/06), foram 2.49 milhões aplicações contra 1,37 milhões dos EUA.
Este registro foi o maior pico da África desde o início da vacinação. Ainda na semana, os africanos também ultrapassaram o país na quinta-feira (09/06), com 1,03 milhões de doses, contra 829.809 dos norte-americanos.
Neste caso, o Our World in Data não distingue os números de primeira ou segunda dose.
Os Estados Unidos tiveram seu pico diário no dia 10 de abril, quando 4.63 milhões de norte-americanos foram vacinados. Na mesma data, em toda a África, 159.926 pessoas haviam sido imunizadas.
Escassez de vacinas na África
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o continente africano tem um déficit estimado de 700 milhões de doses. O diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, já havia se pronunciado sobre a desigualdade na distribuição de vacinas pelo mundo. Em maio, o diretor disse que “mais de 75% de todos os imunizantes administrados até agora foram aplicados em apenas 10 países”.
Para Ghebreyesus, a vacinação desigual é uma “ameaça para todas as nações, não apenas para aquelas com menos vacinas”. A OMS espera conseguir imunizar 10% da população mundial até setembro e 30% até dezembro.
Com a falta de acesso aos imunizantes, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, vem reiterando o pedido para que os países apoiem a quebra de patentes proposta por seu governo e pela Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A China e Estados Unidos, por exemplo, já declaram que apoiam a quebra provisória das patentes para auxiliar no combate ao novo coronavírus. Porém, ainda não há um consenso definido entre as outras nações sobre o tema.
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Desde janeiro, países africanos vacinaram com ao menos uma dose 29.49 milhões de pessoas contra a covid-19
Em janeiro, a União Africana anunciou que o grupo havia adquirido 270 milhões de doses provisórias para os países do continente. Dessas, apenas 50 milhões foram disponibilizadas para o período entre abril e junho. O Centro Africano para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) africano aponta que 65,4% das doses disponíveis já foram utilizadas.
A União Africana espera receber mais imunizantes vindos de doações, como do consórcio Covax, a iniciativa liderada pela OMS, e também do governo Joe Biden, que – após acusações de superconcentração de doses – anunciou a compra e doação de 500 milhões de vacinas para distribuí-las entre 92 países de baixa e média renda, incluindo os africanos. Cada nação poderá receber, em média, cerca de seis milhões.
A estimativa é que 200 milhões sejam enviadas até o fim deste ano, e as 300 milhões restantes, na primeira metade de 2022.
Reino Unido x África
Outra região que apresenta quase metade da população totalmente vacinada é o Reino Unido. Por lá, 43,3% de 66.65 milhões de pessoas já receberam as doses necessárias para completar a imunização. Com pelo menos uma dose, 61,3% da população foi vacinada.
Ainda atrás dos Estados Unidos, a região britânica vacinou cerca de 20 milhões de pessoas a mais que todo o continente africano. Segundo o Our World in Data, até o dia 9 de junho, 40.89 milhões foram vacinados com ao menos uma dose.
No entanto, com a alta de vacinados ao longo dos meses, a taxa diária do Reino Unido demonstra uma queda. Na média móvel, na mesma data de 9 de junho, 509.036 britânicos foram vacinados. Na África, foram 877.031 pessoas.
Desde o começo da vacinação, o pico do Reino Unido, de acordo com o levantamento, foi em 21 de maio, quando 602.266 pessoas receberam a dose. Do lado africano, no mesmo dia, 202.056 foram vacinados.