A comunidade científica mundial avança na busca de uma vacina contra a covid-19. Entre as inúmeras iniciativas, dois projetos vêm se destacando, um deles testado no Brasil. No entanto, segundo um dos diretores do Instituto Pasteur, em Paris, apesar dos resultados promissores, uma vacina será disponível para o público apenas a partir de 2021.
Os dois principais projetos de uma vacina contra a covid-19 foram desenvolvidos separadamente, um pela Universidade de Oxford, em associação com a AstraZeneca, e o outro em Wuhan (China), encabeçado pelo laboratório Sinovac Biotech.
O projeto chinês começou a ser testado no Brasil esta semana por médicos e paramédicos voluntários em São Paulo. Os pesquisadores aplicarão a vacina em um total de 9.000 voluntários de seis estados do país. O programa faz parte do acordo entre o laboratório Sinovac Biotech e o Instituto Butantã, que busca realizar os ensaios de fase 3, o último antes da homologação.
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Os dois projetos de vacina demonstraram ser seguros para os pacientes e produziram respostas imunológicas importantes, segundo resultados dos testes clínicos publicados na segunda-feira (20/07) na revista médica The Lancet. Um resultado que reforçou o otimismo do grupo AstraZeneca, que garante poder fornecer 400 milhões de doses da vacina até o final deste ano.
Não se sabe se vacinas são protetoras
No entanto, Bruno Hoen, diretor de pesquisa médica do Instituto Pasteur, uma das referências mundiais na busca de vacinas, é mais ponderado. Em uma entrevista à radio France Info, ele explicou que os dois testes de fase 2 provaram que as vacinas não tiveram efeitos colaterais graves e apresentaram respostas imunitárias, o que é uma ótima notícia nesse tipo de procedimento. Porém, “isso não quer dizer, por enquanto, que essas vacinas são protetoras. Para sabermos isso, ainda precisamos realizar testes da fase 3”, aponta o epidemiologista.
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Apesar dos resultados promissores, uma vacina será disponível para o público apenas a partir de 2021
“Temos alguns argumentos para pensar que há boas chances de que elas sejam protetoras, já que os anticorpos identificados nos indivíduos testados têm, na maior parte dos casos, capacidades de neutralização do vírus. E isso nos dá esperança”, explica Hoen.
Mas o diretor do Instituto Pasteur prefere avisar que resultados definitivos, com a possibilidade de comercialização, ainda devem demorar. Segundo ele, uma vacina contra a covid-19 “não será disponível em 2020. E se isso acontecer em 2021, será uma conquista”, avisa.
Dos mais de 200 projetos de vacina, poucos avançam
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo vivia uma pandemia com a propagação da covid-19 há mais de três meses, centenas de projetos de busca de uma vacina foram lançados pelo mundo. Segundo um estudo da London School of Hygiene & Tropical Medicine, atualmente mais 200 programas de pesquisa estão em andamento.
Porém, a maioria deles (189) não saiu da etapa de testes pré-clínicos, antes mesmo da Fase 1. Isso significa que, nesses casos, os séruns estão sendo avaliados em sistemas vivos não-humanos, como em animais. Apenas uma dezena de programas avançou além dessa etapa, com a realização de testes clínicos (fases 1 e 2) e os mais avançados são justamente os projetos britânico e chinês.
Além deles, a empresa norte-americana Moderna, que também está no páreo, já informou que pretende lançar a última etapa de testes clínicos (fase 3) de sua vacina contra a covid-19 no final deste mês.