O vice-presidente executivo da AstraZeneca, Menelas Pangalos, reconheceu na noite desta quarta-feira (25/11) que ocorreu um erro de dosagem na aplicação da vacina que a empresa desenvolve em parceria com a Universidade de Oxford contra a covid-19.
É essa a vacina que o governo brasileiro pretende fabricar via Fiocruz caso seja eficiente na imunização contra o coronavírus.
As pesquisas da vacina de Oxford envolveram grupos que receberam taxas de dosagem diferentes. Um primeiro grupo, com cerca de 2.800 voluntários, recebeu meia dose da vacina e um mês depois uma dose completa. Um segundo grupo, com quase 8.900 voluntários, recebeu duas doses completas. Pesquisadores da empresa e da Universidade não souberam responder o motivo pela variação de doses.
Segundo o jornal New York Times, cientistas e especialistas afirmaram que tais irregularidades colocam em xeque a credibilidade do estudo e dos resultados, já que nesta segunda-feira (23/11), a AstraZeneca publicou um estudo dizendo que a vacina havia apresentado uma eficácia de 90%.
De acordo com o vice-presidente da farmacêutica, a ocorrência do erro não resultou em problemas para o desenvolvimento das pesquisas, podendo ser “bastante útil” ao estudo. “Não estava colocando ninguém em perigo. Foi um erro de dosagem. Todo mundo estava se movendo muito rápido. Corrigimos o erro e continuamos com o estudo, sem alterações, e concordamos com o regulador em incluir esses pacientes na análise do estudo também”, disse.
Wikimedia Commons
AstraZeneca reconheceu problemas nos testes com a vacina de Oxford
Entretanto, o que preocupa a comunidade científica são os números, pois o primeiro grupo apresentou uma taxa de eficácia imunizante em 90%, enquanto o segundo, que recebeu duas doses completas, apresentou 62%. À agência de notícias Reuters, Pangalos disse que o erro foi um “acaso positivo”, apontando que os resultados foram uma “surpresa”.
Já ao New York Times, o executivo declarou que o erro foi cometido por uma empresa contratada e, logo que foi constatado o erro, os reguladores foram notificados e autorizados para dar continuidade no plano de testes com doses diferentes.
Outro ponto é a informação em relação à idade dos voluntários. Pangalos disse que os participantes do primeiro grupo tinham 55 anos ou menos. De acordo com o jornal, essa informação poderia minar a vacina de Oxford para o uso emergencial, já que a meia dose não foi testada em pessoas mais velhas, que são o grupo de risco da covid-19.
A farmacêutica também juntou resultados de dois estudos que estavam sendo realizados de maneiras diferentes, um no Reino Unido e outro no Brasil. Essa junção de informações e erros foi relatada por especialistas como uma falta de transparência da empresa e da Universidade.
Pangalos disse que pesquisadores da AstraZeneca estão trabalhando para publicar os dados em mídia científica para que outros cientistas possam revisar os resultados. “Acho que a melhor maneira de refletir os resultados é em um jornal científico revisado por pares”, afirmou.