Deisy Ventura: 'responsabilidade da crise em Manaus é da União e do Estado'
Coordenadora do doutorado em Saúde Global e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP disse que crise fez com que governadores abandonassem discurso negacionista do governo federal
Manaus apresentou na semana passada uma crise decorrente da falta de oxigênio para atender os doentes de covid-19 nos hospitais. Uma força-tarefa chegou a ser mobilizada para transferir pacientes para outros Estados da União.
A professora Deisy Ventura, coordenadora do doutorado em Saúde Global e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e editora do Boletim Direitos na Pandemia, comentou o assunto em entrevista ao Jornal da USP no Ar Primeira Edição na última semana (clique aqui para ouvir a entrevista no site da universidade). A especialista diz que “o governo federal é o coordenador do sistema de saúde”.
A situação vivida por Manaus, comenta Deisy, “mostra o que estamos vivendo há muito tempo: que o coronavírus vai sobrecarregar o sistema de saúde do nosso país. Todas as pessoas que morreram por falta de oxigênio poderiam ter sobrevivido caso o sistema estivesse em plenas condições”.
Colapso em todo o sistema
Mais uma vez, a cidade amazonense se torna um caso paradigmático. Após sofrer um colapso no sistema de saúde no início da pandemia, volta a ser um exemplo das disfunções que podem acontecer em meio a uma pandemia. No primeiro momento, Manaus serviu de alerta para os demais governadores e prefeitos brasileiros.
“Fez com que alguns governadores abandonassem o discurso negacionista do governo federal [em relação à propagação do coronavírus], porque viram a gravidade do que estava acontecendo. Houve uma sobrecarga inclusive do sistema funerário, o que assustou os gestores, relembra a especialista.
Mas a responsabilidade do episódio não fica somente por conta dos entes federativos, como aponta Deisy em sua conclusão: “Imaginou-se que aquilo não aconteceria mais lá [em Manaus]. Pois aconteceu. E também há uma responsabilidade da sociedade. O governador do Amazonas, no dia 23 de dezembro, por meio de um decreto, suspendeu as atividades não essenciais. E houve um movimento liderado por empresários bolsonaristas de contrapor a decisão do governador, que acabou voltando atrás na decisão”, disse.
