É possível vislumbrar um mundo novo, no contexto do mercado editorial brasileiro e de seu distanciamento generalizado das literaturas vizinhas, quando um livro como “O fundo do céu”, do argentino Rodrigo Fresán, aparece nas principais livrarias do país. Não é comum, afinal, localizar nas vastas prateleiras da maior das lojas uma seçãozinha latino-americana que vá além de clássicos do boom, nóbeis ou celebridades como Borges, Cortázar, García Márquez, Vargas Llosa e, ultimamente, Bolaño. Mas mesmo eles são joias não pouco raras.
Arquivo pessoal
Fresán nasceu em Buenos Aires, em 1963, e mora em Barcelona desde 1999. O primeiro livro, “História argentina”, foi muito elogiado
Para arejar as referências literárias que temos da vizinhança é que Rodrigo Fresán e seu romance lançado originalmente em 2009 pela Random House-Mondadori (onde ele é responsável pela coleção de literatura policial “Roja & Negra”) são muito bem-vindos. Ele reúne características — para os sedentos de novidades de um “achado”: encaixa-se na ficção científica, gênero raro nas nossas seções de literatura hispano-americana, foi escrito por um autor jovem e inédito no Brasil, e suas linhas passeiam entre a ficção e o ensaio e, felizmente, escapam da já manjada auto-ficção e do realismo feroz que dominam os dias atuais.
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O livro foi lançado em maio pela Cosac&Naify, que vem prestando atenção em nomes da ficção do Cone Sul, principalmente, que não tenham sido editados aqui. Pertencem também ao catálogo da editora os chilenos Alejandro Zambra (“Formas de voltar para casa”), relativamente conhecido pelos brasileiros por seus romances anteriores; Jorge Edwards (“A origem do mundo”), um veterano da chamada Geração 50 (e que estará na próxima edição da Flip); José Donoso (“O lugar sem limites”), nome importante do boom; e María Luiza Bombal, autora muito celebrada no Chile, colaboradora da revista Sur e amiga de Borges.
Divulgação
Também a uruguaia Inés Bortagaray (“Um, dois e já”), jovem escritora que atua também no cinema; e o argentino Alan Pauls (“História do cabelo”), que já tem aqui alguns títulos publicados, graças sucesso de seu “O passado”, que virou filme nas mãos de Hector Babenco.
Voltando a “O fundo do céu”, a história é conduzida por dois nerds, Isaac e Ezra, ávidos leitores e escritores de literatura fantástica e amigos rivais apenas no amor que disputam pela mesma mulher, Eva.
Os dois vivem em Nova York, onde se interessar pelo gênero que eles amam é muito mais divertido, e a trajetória deles no livro se confunde com as de vários clássicos de ficção científica – o que termina sendo uma grande homenagem ou uma grande compilação de referências imperdíveis, que poderia roubar atentar contra a modéstia do autor, mas que não interferem na inegável qualidade da narração.
Fresán nasceu em Buenos Aires, em 1963, e mora em Barcelona desde 1999. Seu primeiro livro, “História argentina”, foi muito elogiado pela crítica, além de ter circulado bastante comercialmente, apesar de ainda ser inédito aqui (outro título seu lançado no Brasil é “Jardins de Kensigton”).
O escritor, colaborador do músico Andrés Calamaro e que atuou no filme “Martín (Hache)”, de Adolfo Aristarain, é também jornalista e tradutor; levou ao espanhol obras de John Cheever, Denis Johnson e Carson McCullers, entre outros. Sem dúvida, dá vontade de conhecê-lo melhor – e outros como ele.