A Chancelaria da Bolívia repudiou nesta quarta-feira (17/03) as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo Departamento de Estado dos EUA sobre a prisão da ex-mandatário autoproclamada da Bolívia Jeanine Áñez.
Em nota, a Chancelaria disse que o ministro das Relações Exteriores, Rogelio Mayta, manifestou ao embaixador do Brasil no país, Octavio Côrtes, e à encarregada de negócios dos Estados Unidos, Charisse Phillips, o repúdio do governo boliviano após autoridades de ambos os países criticarem os processos e as prisões contra os envolvidos no golpe de Estado de 2019 que derrubou o governo do ex-presidente Evo Morales.
“Diante da declaração emitida pelo presidente do Brasil, Jair Bosonaro, em alusão a detenções recentes de cidadãos bolivianos dispostas pela Justiça, o Ministério de Relações Exteriores da Bolívia expressou sua posição ao embaixador deste país”, disse o Ministério.
Citando a Resolução 2625 da ONU sobre relações de amizade e cooperação entre os Estados, a Bolívia disse que é “obrigação não intervir nos assuntos que são de outra jurisdição interna dos Estados”.
A declaração vêm após o presidente Jair Bolsonaro se dizer “preocupado” com a prisão da ex-presidente autoproclamada Jeanine Áñez por envolvimento no golpe de Estado de novembro de 2019.
Bolsonaro, que foi o primeiro líder da América Latina a reconhecer o governo não eleito de Áñez, declarou que a participação da ex-senadora direitista no golpe de Estado é “totalmente descabida”.
No caso dos norte-americanos, a Chancelaria manifestou desagravo às declaração feitas pela vice-porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jalina Porter, sobre as prisões dos artífices do golpe.
Em pronunciamento no dia 16 de março, Porter afirmou que o governo dos EUA segue “com preocupação os desenvolvimentos envolvendo o governo da Bolívia com prisões de ex-autoridades” e disse que um “julgamento justo e imparcial é pedra fundamental para qualquer democracia”.
#Bolivia expresa su postura respecto a la declaración de #EEUU referida a las detenciones de ciudadanos dispuestas por la justicia ordinaria.
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— Cancillería de Bolivia (@MRE_Bolivia) March 18, 2021
Cancillería Bolivia
Embaixador brasileiro em La Paz conversou com Rogelio Mayta, chanceler da Bolívia
Prisão de Áñez
A ex-presidente autoproclamada Jeanine Áñez foi presa na madrugada de sábado (13/03). Ela é acusada pelos crimes de terrorismo, conspiração e sedição devido aos eventos que levaram à saída de Evo. A ex-senadora de direita se autoproclamou presidente após o golpe, ordenou a repressão contra movimentos sociais e tentou adiar as eleições presidenciais em três ocasiões.
O pedido de prisão de Áñez havia sido emitido na sexta-feira (12/03), quando o Ministério Público do país entendeu que havia risco de “fuga ou obstrução”. Ainda no domingo (14/03), a Justiça boliviana decretou quatro meses de prisão preventiva para a ex-presidente autoproclamada e dois ex-ministros de seu governo, Álvaro Coimbra (Justiça) e Rodrigo Guzmán (Energia).
Além da ex-mandatária, os ex-ministros de seu governo Yerko Núñez, Arturo Murillo e Luis Fernando López também foram alvos de pedidos de prisão. .
Golpe de Estado na Bolívia
Em novembro de 2019, mobilizações golpistas de extrema direita forçaram a renúncia do então presidente Evo Morales. O ex-mandatário teve que deixar o país e se asilou no México, depois na Argentina.
Durante o governo de Jeanine Áñez, foram registradas prisões arbitrárias de pelo menos 1.534 pessoas. Além disso, movimentos contra o governo golpista foram alvo de forte repressão policial que, muitas vezes, resultou em massacres, como os que ocorreram nas regiões de Senkata e Sacaba.