Este acordo é “completamente contraditório” com o que o presidente Lula “está fazendo no Brasil”, disse Macron a jornalistas. O líder francês argumentou que o documento “não leva em conta a biodiversidade e o clima” e se resume a um texto “mal remendado”, que levaria a um “desmantelamento tarifário à moda antiga”.
Macron defendeu que o acordo remunere o “Brasil por sua política florestal”. “A comunidade internacional e a União Europeia devem ajudá-lo e, portanto, dar-lhe créditos de carbono para não desmatar porque você tem um tesouro florestal no Brasil” com a Amazônia, insistiu.
Macron também informou que iria ao Brasil em março de 2024. “Sobre a luta contra o desmatamento, sobre uma verdadeira política amazônica, em questões de defesa, interesses econômicos, questões culturais, nós temos uma agenda bilateral extremamente densa e um alinhamento de pontos de vista muito grande”, argumentou, insistindo que Lula era um presidente “visionário” e “corajoso”.
Segundo a presidência brasileira, esta visita ocorrerá no dia 27 de março.
O futuro do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) estará na pauta de discussões da viagem. Concluído em 2019, após vinte anos de negociações complexas, o texto nunca foi ratificado devido a preocupações europeias com as políticas ambientais, especialmente do Brasil.
Ricardo Stuckert/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o chefe de Estado francês Emmanuel Macron, durante um encontro bilateral
França “protecionista”
Lula reagiu imediatamente às críticas de Macron sobre o acordo UE-Mercosul. “É um direito seu. Cada país tem o direito de ter a sua posição. Sempre foi mais difícil fechar um acordo com a França, porque é mais protecionista. A União Europeia não tem a mesma posição, ela pensa diferente”, declarou para jornalistas brasileiros em Dubai.
Apesar das exigências da UE descritas como “tendenciosas” e “inaceitáveis” pelo Brasil e pela Argentina, as negociações continuam entre as duas partes.
Em meados de julho, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse estar “confiante” em poder finalizar estas discussões “nos próximos meses”. Na sexta-feira (1º), após reunião com Lula em Dubai, ela reiterou “o compromisso da UE em garantir que o acordo seja concluído”.
Mas o Brasil, atual presidente do Mercosul, também está preocupado com a recente eleição de Javier Milei como chefe da Argentina, temendo que o ultraliberal faça com que o acordo fracasse. A próxima cúpula regional do bloco será realizada em 7 de dezembro no Rio de Janeiro, três dias antes da posse de Milei.
“Faremos tudo o que pudermos para manter a cooperação e até mesmo enriquecê-la com a Argentina e também tentar tornar a Argentina um bom parceiro do Mercosul”, assegurou Macron, esperando que “nas questões climáticas”, Milei “se una” aos outros países.
*Com informações da AFP