O governo brasileiro manifestou-se nesta segunda-feira (22/05) em repúdio, “nos mais fortes termos”, aos ataques racistas que o atleta Vinícius Júnior “vem sofrendo reiteradamente na Espanha”.
Por meio de uma nota conjunta entre o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Igualdade Racial, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Ministério do Esporte, e o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, o governo do Brasil instou as autoridades governamentais e esportivas da Espanha “a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos”, também solicitando que a Federação Internacional de Futebol (FIFA), a Federação Espanhola e à Liga – liga de futebol na qual o atleta brasileiro estava competindo – “apliquem as medidas cabíveis”.
As pastas ainda afirmaram que “lamentam profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo“.
Em relação ao governo da Espanha, a declaração conjunta afirmou que ambos os países estão trabalhando para “coibir, reprimir e promover políticas de igualdade racial”, compartilhando “conhecimento e boas práticas para ampliar o acesso de pessoas afrodescendentes e imigrantes ao esporte” tendo total intolerância a práticas discriminatórias.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu que a Fifa e LaLiga tomem “medidas sérias”. “Não podemos permitir que o fascismo e o racismo se instalem dentro dos estádios de futebol”, afirmou.
Queria fazer um gesto de solidariedade ao @vinijr, um jovem que certamente é o melhor jogador do Real Madrid, e que sofre repetidas ofensas. Espero que a Fifa e outras entidades tomem providências, para não deixar que o racismo tome conta do futebol.
— Lula (@LulaOficial) May 21, 2023
Segundo o portal Brasil 247, o Itamaraty ainda vai chamar a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, a fim de cobrar um posicionamento do país diante dos ataques racistas.
Twitter/Vini Jr.
Atleta brasileiro Vinícius Júnior afirmou que campeonato espanhol atualmente "é dos racistas"
Por sua vez, a Embaixada declarou que “condena com veemência as manifestações e atitudes racistas e expressa total solidariedade ao jogador Vinícius Júnior pelos ataques intoleráveis e covardes sofridos, que de nenhuma maneira refletem as posições antirracistas da absoluta maioria da população espanhola”.
No último domingo (21/05), Júnior, que joga no clube espanhol Real Madrid, foi alvo de insultos racistas dos torcedores do time adversário na partida da LaLiga, o Valencia.
No estádio Mestalla, o brasileiro foi atacado por parte da torcida, que o chamou de “macaco” repetidamente. O atleta também foi expulso no final da partida.
Após o confronto, o centroavante fez um desabafo nas redes sociais sobre os insultos. No texto, o brasileiro abriu a possibilidade de deixar o futebol espanhol em virtude dos repetidos casos de racismo.
“Não foi a primeira, nem a segunda e nem a terceira vez. O racismo é normal na LaLiga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Eu sou forte e vou até o fim contra os racistas, mesmo que longe daqui”, escreveu o atleta.
Em outra publicação, feita cerca de duas horas mais tarde, o jogador do Real Madrid retrucou o presidente da LaLiga, Javier Tebas, que o criticou pelos acontecimentos em Valência.
“Outra vez, em vez de criticar os racistas, o presidente da La Liga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa. Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo, quero ações e punições”, disse o atacante.
O jogador recebeu apoio de inúmeros clubes, autoridades políticas e personalidades do mundo do futebol. O técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, defendeu o brasileiro ao dizer que a liga espanhola “está muito errada”, além de confirmar que “nada acontece” para punir os responsáveis.
Ao todo, a organização da principal divisão do Campeonato Espanhol registrou até o fim de março pelo menos nove reclamações na Justiça do país por racismo contra o brasileiro somente na atual temporada.
(*) Com Ansa