Desde que Javier Milei venceu as eleições presidenciais da Argentina, com uma campanha antissistema e marcada por discursos violentos contra o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, muitas dúvidas sobre como Brasília e Buenos Aires vão se relacionar surgiram, ressaltadas pela posse do ultraliberal em 10 de dezembro – evento em que o presidente Lula enviou o chanceler Mauro Vieira para representar o Brasil.
No entanto, mesmo com o clima balançado entre os mandatários, o ministro das Relações Exteriores, em entrevista ao jornal O Globo, disse que conversou com Milei e ouviu que o governo do país vizinho quer manter um bom relacionamento com o Brasil.
“Estive duas vezes com ele [Milei]. No dia da posse, ele declarou que quer manter o melhor relacionamento possível com o Brasil, coisa que, ressaltei, é desejo do presidente Lula. Podemos fazer avanços no comércio bilateral importantíssimos”, declarou Vieira.
Indagado se Brasília teme as profundas mudanças econômicas que a Casa Rosada está adotando, especialmente no processo de dolarização tão verbalizado por Milei, o chanceler disse que o “impacto será inevitável”, mas que pediu ao presidente “um tratamento diferenciado”.
“Evidentemente, a Argentina está implementando um programa de ajuste econômico, que vai ter impacto no comércio. No caso de medidas de comércio exterior, o que pedimos é que haja um tratamento diferenciado para o Brasil e o Mercosul. Estamos sempre dispostos a conversar e discutir qualquer dificuldade. Não há relação bilateral que não tenha pontos a serem discutidos. Com países com os quais temos grande corrente de comércio, como EUA, China, União Europeia e México, há sempre questões a tratar”, explicou Vieira ao jornal.
Itamaraty Brasil/Twitter
"Podemos fazer avanços no comércio bilateral importantíssimos", declarou Vieira sobre Argentina
Milei atrapalha o acordo entre UE e Mercosul?
Ao citar o Mercosul, o chefe do Itamaraty disse que o acordo de livre comércio com a União Europeia, travado há 20 anos e com bloqueios na pauta ambiental, “tem um limite temporal até fevereiro” e que o governo argentino mostrou apoio ao pacto comercial.
“Estamos trabalhando intensamente. O novo governo argentino, inclusive, manifestou apoio à construção do acordo. Nosso limite temporal é fevereiro e temos feito muitos avanços na questão do meio ambiente e em compras governamentais. Ainda estão pendentes algumas coisas, como certificação dos produtos na exploração para exportação. Há um desejo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de concluir nesse período também”, afirmou.
(*) Com Spuntiknews