Na cerimônia de lançamento das atividades do escritório de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) em Jerusalém, neste domingo (15/12), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, garantiu ter recebido a promessa de que o governo brasileiro vai transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém no ano que vem. “Beezrat Hashem” (“com a ajuda de Deus”), completou.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presente à cerimônia, confirmou que essa é a promessa de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro.
“O presidente Bolsonaro me disse que vai transferir a embaixada, com certeza. Mas estamos estudando com cuidado. Não queremos dar um passo atrás”, disse Eduardo Bolsonaro, se referindo ao Paraguai, que chegou a realizar a inauguração festiva de uma embaixada em Jerusalém em maio de 2018, mas voltou atrás três meses depois. “Queremos ser um exemplo para a América Latina. Se fizermos esse movimento, os outros países vão se sentir confortáveis para nos seguir. E é o que esperamos”, completou.
“Se não mudarmos a embaixada para Jerusalém e se os terroristas acharem que podem nos ameaçar, será uma vergonha. Quem comanda seu país é o governo e não grupos terroristas”, continuou Eduardo, que começou o discurso se desculpando pelo inglês. “É a primeira vez que falo em público em inglês”, explicou.
Escritório
A ideia, inclusive prometida durante a campanha eleitoral, era de transferir já a embaixada para Israel. Com a reação negativa em especial dos países árabes – grandes compradores de carne e frango brasileiros – o governo voltou atrás e disse que iria abrir um “escritório de negócios”.
Caso a mudança efetivamente se concretize, o Brasil corre o risco de perder o mercado dos países da região – responsáveis por 4,8% das exportações brasileiras.
O escritório da Apex em Jerusalém vai lidar com promoção de negócios, investimento, tecnologia e inovação e contará com três funcionários, um brasileiro (a diretora Camila Meyer, funcionária da Apex deslocada para o país) e dois locais. Ele funcionará no Parque Industrial Har Hotzvim, no escritório de coworking Regus.
A cerimônia de lançamento, no entanto, ocorreu no hotel cinco estrelas David Citadel, porque o escritório ainda não está pronto. Neste domingo, um rabino colocou uma mezuzá (símbolo judaico colocado em umbrais de portas e que funciona como amuleto de proteção), mas os funcionários ainda não foram contratados. O orçamento para a manutenção do local não foi divulgado.
Alan Santos/PR
Netanyahu disse que Bolsonaro falou em embaixada em Jerusalém para o ano que vem
A ligação do escritório e a embaixada será de cooperação, mas, como ele não terá status diplomático, ainda se estuda se terá na porta uma bandeira do Brasil ou apenas o símbolo da Apex.
Honduras e Hungria também abriram escritórios comerciais em Jerusalém, nos últimos meses, mas com status diplomático, ao contrário da Apex-Brasil, que não terá esse status. O presidente hondurenho, Juan Orlando Hernandez, afirmou que o escritório seria apenas o “primeiro passo” em direção à transferência da embaixada de seu país para Jerusalém, o que poderia acontecer nas próximas semanas.
O governo brasileiro, no entanto, ainda não anunciou concretamente a data da transferência da embaixada, como prometido pelo presidente Bolsonaro durante sua visita a Israel, em abril deste ano, e durante sua campanha presidencial.
Trump
Nenhum país mantinha embaixada em Jerusalém até abril de 2018, quando o governo do presidente Donald Trump transferiu oficialmente sua representação diplomática para Jerusalém após reconhecer a cidade como capital de Israel – passo polêmico com repercussões internacionais. Israel esperava que outros países aliados seguissem a iniciativa dos EUA, mas apenas a Guatemala o fez.
Outros países, como Hungria e Honduras, apenas abriram escritórios de negócios em Jerusalém. República Tcheca e Austrália inauguraram escritórios similares, mas sem status diplomático, o que prometem fazer em breve também Eslováquia e Ucrânia.
Israel considera Jerusalém sua “capital eterna e indivisível” e é lá que está o Knesset (o Parlamento) e todos os órgãos de governo. Já os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado palestino. Segundo resolução da ONU de 1947, Jerusalém deveria ser uma cidade internacionalizada e desmilitarizada. A maior parte da comunidade internacional considera que a cidade está em disputa e que deveria servir como capital de Israel e da Palestina após um acordo de paz que estabelecesse a criação de dois Estados nacionais adjacentes.
(*) Com RFI