O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o governo brasileiro não está mais “preocupado” em conseguir uma vaga no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta segunda-feira (25/03), o chanceler disse que o prestígio das Forças Armadas projeta o país, mas não o suficiente para dar uma cadeira no órgão da ONU.
“O Conselho se Segurança a gente não está muito preocupado com isso. O que queremos é ter uma atuação nas várias instâncias da ONU compatível com […] nossas ideias, nossos valores e nossos interesses”, disse Araújo durante visita oficial ao Chile.
A busca por um lugar no Conselho de Segurança da ONU foi um dos principais objetivos da política externa dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010) e da ex-presidente Dilma Rousseff (2010-2016). A opção por um assento no órgão era parte do plano da diplomacia brasileira à época que priorizava a independência do país, os parceiros no “terceiro mundo” e o amadurecimento da democracia brasileira.
O chanceler afirmou que o governo está interessado em voltar a participar de “grandes operações de paz” das Nações Unidas que, segundo ele, “é importante para mostrar que [o Brasil´] é grande e pode contribuir nessa área, assim como você ter uma atuação firma na área de direitos”.
Araújo criticou a política externa de administrações anteriores e afirmou que “as pessoas vão se acostumar a ter uma voz do Brasil que é uma voz própria”.
“Talvez uma voz diferente do passado, que era meio uma voz de ventríloquo: o global falando pela voz do Brasil. Uma voz própria que talvez agrada a uns, e a outros, não. Sem problemas”, disse o chanceler.
Venezuela
O ministro também comentou a posição da chancelaria brasileira em relação ao governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a quem Araújo chama de “ditador”. Segundo ele, o poder do país vizinho estaria passando lentamente das mãos de Maduro para as de Juan Guaidó, deputado de direita que autoproclamou presidente interino há três meses.
“Guaidó até há pouco era uma pessoa que tinha feito uma declaração. Agora ele é uma pessoa que circula no país e essa legitimidade é tão percebida que o aparato de repressão não se moveu contra ele como se falava”, argumentou o ministro.
Sobre a suposta perda de apoio de Maduro dentro de setores públicos e das Forças Armadas venezuelanas, Araújo disse que “é como se fosse uma coisa de ficção científica, em que uma coisa vai se desmaterializando ali e se materializando aqui. Só que é o Maduro que se desmaterializa, e o Guaidó se materializa”.
O chanceler ainda disse que o Brasil está disposto a conversar com os governos da Rússia e da China, principais parceiros comerciais da Venezuela, para “falar da nossa percepção como país vizinho”. Segundo o ministro, é tarefa do governo brasileiro “compartilhar isso para ajudá-los a entender a situação”.
Prosul e Mercosul
Durante encontro no Chile na última sexta-feria (22/03), representantes de oito países latino-americanos assinaram um documento que propõe a criação do Prosul, novo acordo de desenvolvimento e integração regional que deve substituir a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008.
Para o chanceler brasileiro, o novo pacto prevê relações somente entre as nações signatárias e que não há necessidade “de que haja um relacionamento em conjunto com a China, por exemplo, ou com a Rússia ou com qualquer outra potência de fora da região ou com os EUA dentro do nosso continente”.
“No momento, não vejo a Prosul como uma entidade que necessariamente vai dialogar com terceiros países. Ao menos não de maneira sistemática”, declarou o ministro.
Araújo ainda disse que o Mercosul precisa retomar sua “vocação original” para deixar as “economias respirarem”. “É claro que isso tudo tem que ser feito com cuidados e várias dimensões têm que ser olhadas”, disse.
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Ministro ainda falou sobre Venezuela e Prosul