Atualização às 17h05
Com um ritual ancestral de agradecimento à Pachamama (Mãe Terra), começou nesta segunda-feira (22/01) a celebração dos 15 anos de fundação do Estado Plurinacional da Bolívia, que reconhece em sua democracia a dignidade e os valores dos povos originários e tradicionais.
A cerimônia foi realizada esta manhã na Casa Grande del Pueblo, na capital La Paz, junto a autoridades nacionais como o presidente Luis Arce, o vice-presidente David Choquehuanca; o presidente da Câmara dos Deputados, Israel Huaytari; ministros de estado e representantes de diferentes setores sociais.
“Somos a síntese dos nossos povos camponeses indígenas originários, da classe trabalhadora, de homens e mulheres patrióticos que nunca desistiram de construir uma Pátria descolonizada, despatriarcalizada, digna, soberana, produtiva, livre de racismo, exclusão, exploração e todas as formas de discriminação”, declarou o mandatário, em suas redes sociais, ao falar sobre a comemoração.
Con una ofrenda ancestral agradecemos las bendiciones de nuestra #Pachamama, al conmemorar 15 años de nuestro Estado Plurinacional de #Bolivia. Somos la síntesis de nuestros pueblos indígenas originarios campesinos, de la clase obrera, de hombres y mujeres patriotas que nunca… pic.twitter.com/ykafkZijhp
— Luis Alberto Arce Catacora (Lucho Arce) (@LuchoXBolivia) January 22, 2024
“Das diversas formas de Estado que legitimaram a dominação e a exploração, embarcamos no caminho, sempre difícil e acidentado, da independência econômica definitiva e da soberania política”, continuou o presidente, afirmando que seu país “não aplica receitas neoliberais, nem receitas eleitorais fáceis”.
O mandatário também discursou no evento, falando sobre a ameaça que o Estado Plurinacional vive, de forma que a sociedade boliviana deve “estar em alerta e pronta para o combate”.
Arce denunciou que a oposição e a “nova direita” tentam desestabilizar seu governo com movimentos na justiça e bloqueios que “prejudicam e punem o povo”.
Twitter/Luis Arce
Cerimônia em La Paz contou com diversas autoridades nacionais, mas não o fundador do Estado Plurinacional, Evo Morales
Apesar de falar sobre as crises em seu governo, Arce não mencionou diretamente o conflito dentro da esquerda boliviana, com o partido que o levou à presidência, o Movimento ao Socialismo (MAS), o qual é presidido pelo ex-presidente Evo Morales (2006-2019).
A situação levou o presidente a não convidar ou mencionar Morales nas comemorações, mesmo que este tenha sido o mandatário a levar a Bolívia à consulta popular positiva para a criação do Estado Plurinacional, em 2009.
Por sua vez, Morales pronunciou-se sobre a data por meio das redes sociais, recordando a fundação do Estado: “Pela primeira vez, um indígena assumiu a Presidência, num momento em que o Estado atravessava uma grave crise e a República era uma ameaça que não representava as grandes maiorias”.
O ex-presidente também mencionou o “golpe cívico-policial-militar” que o país viveu em 2019, quando foi forçado a renunciar. Segundo ele, no momento atual a Bolívia vive um “golpe judicial”.
Cada 22 de enero se recuerda la fundación del Estado Plurinacional. Por primera vez, un indígena asumía la Presidencia, en momentos en que el Estado atravesaba una grave crisis y, la República era una amenaza que no representaba a las grandes mayorías.
Hoy recordamos la… pic.twitter.com/m3SKfvGj13
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) January 22, 2024
Em meio ao conflito político, Morales – que é um atual crítico do governo Arce – lançou em setembro passado sua candidatura à presidência nas eleições que vão ocorrer em 2025.
Racha na direção do MAS
A direção nacional do Movimento ao Socialismo (MAS) anunciou em agosto de 2023 o rompimento de relações com o presidente Arce, afirmando que estava “tudo acabado” entre partido e governo.
O anúncio do partido ocorreu após Morales denunciar que um julgamento contra ele, por suposta difamação, teria a intenção de anulá-lo politicamente. Segundo o vice-presidente da legenda, Gerardo García, que chamou de “ameaças” o andamento do processo contra Morales, a situação entre o partido e Arce se deteriorou.
A crise se aprofundou porque Morales acusou o escritório de advocacia do ministro da Justiça, Iván Lima, de defender uma empresa que processa o Estado boliviano em US$ 35 milhões. Por conta disso, o chefe da pasta está processando o ex-presidente por difamação, declarando que as palavras do líder do MAS já chegaram “ao limite”, e que ele se excedeu ao apontar que existe um plano para anulá-lo.
(*) Com TeleSUR