A imprensa francesa desta quarta-feira (05/10) lembra o quinto aniversário do movimento feminista #MeToo. Em outubro de 2017, centenas de mulheres no mundo inteiro começavam a sair do silêncio e a denunciar agressões sexuais e sexistas.
Tudo teve início quando, há exatamente 5 anos, em 5 de outubro de 2017, o jornal norte-americano New York Times publicou uma reportagem com acusações que apontavam para décadas de estupros, agressões e assédios sexuais cometidos pelo megaprodutor de cinema Harvey Weinstein. As primeiras revelações vieram da parte de produtoras e atrizes nos Estados Unidos.
Dez dias depois, em 15 de outubro de 2017, a atriz americana Alyssa Milano convidou as mulheres a usar a hashtag #MeToo (Eu também, em português) nas redes sociais para compartilhar seus relatos. A partir daí, “uma onda de choque teve fortes repercussões nas famílias, nas escolas e na justiça”, diz o jornal francês Le Monde.
Em uma vasta reportagem, o diário lembra que, ao longo dos anos, o movimento MeToo ganhou versões no mundo inteiro, como #EuTambém, no Brasil, #Cuéntalo na Espanha, ou na França, #BalanceTonPorc (Entregue o seu porco) e trazendo à tona violências vividas pelas mulheres na política, nas mídias, no esporte, na cultura. “Para as militantes feministas e para as mulheres que foram vítimas, que disseram ‘isso também ocorreu comigo’ publicamente ou na esfera íntima, há incontestavelmente um antes e um depois do #MeToo”, afirma o jornal Le Monde.
#MeToo mudou o mundo
O jornal de esquerda L’Humanité faz uma análise sobre como em cinco anos o movimento mudou o mundo. Especificamente na França, “o silêncio das mulheres não é mais a regra”, diz a matéria que destaca um relatório do Ministério do Interior francês, que aponta que o número de denúncias de violências sexuais registrou um aumento de 82% desde 2017.
Wikicommons
Há 5 anos, ‘New York Times’ denunciou décadas de assédios, abusos e estupros cometidos pelo megaprodutor de cinema Harvey Weinstein
No entanto, essa quebra geral de silêncio tem também consequências negativas, diz ao L’Humanité a presidente da Fundação das Mulheres, Anne-Cécile Mailfert. Diante de uma falta de vontade política, “a justiça continua sendo lenta e ineficaz”, diz a militante lembrando que, na França, menos de um agressor a cada três é processado.
O caso da líder do #MeToo francês, a jornalista Sandra Muller, é emblemático. Em outubro de 2017, ela contou no Twitter que foi vítima de assédio sexual pelo ex-chefe do canal Equidia. Processada por difamação, ela chegou a ser condenada em primeira instância, mas em 2021 a Corte de Apelações de Paris considerou que a jornalista “agiu de boa fé” e encerrou o caso.
Entrevistada pela agência AFP, Sandra Muller diz não se arrepender da iniciativa e da publicação do tuíte que, segundo ela, “arruinou” cinco anos de sua vida. “Mas quando temos meios para mudar uma sociedade para instalar regras melhores (…), sim, é uma satisfação”, reconhece.
Em uma coluna de opinião no jornal conservador Le Figaro, a jornalista Eugénie Bastié trata da fratura do movimento feminista depois do #MeToo e diz que “jamais no mundo ocidental as mulheres estiveram tão divididas”. Ela cita como exemplo duas questões que não encontram um consenso entre as militantes: o uso do véu islâmico e a integração das mulheres trans.