“Os direitos das mulheres estão desaparecendo na Argentina. Não seja complacente, o seu pode ser o próximo a desaparecer”. O apelo é a parte mais dramática do artigo escrito pela escritora, jornalista e ativista feminista argentina Luciana Peker, publicado nesta terça-feira (23/01) no jornal britânico The Guardian.
O temor descrito por Peker pela “ascensão do extremismo antifeminista” na Argentina tem respaldo nas ameaças à sua própria segurança, situação que a obrigou a abandonar seu próprio país.
“O feminismo na Argentina não foi eliminado, mas está sob ataque. É por isso que tive que deixar o país, depois de ameaças, censura, silenciamento e sufocamento do meu trabalho e renda por parte dos apoiadores de Milei”, declarou na publicação.
A autora lembra uma Argentina que marchou pela primeira vez contra o feminicídio em 2015 sob o lema 'Ni Una Menos (Nem uma a menos, em tradução para o português).
Com uma “indignação nacional”, em 3 de junho de 2015, a sociedade argentina protestou contra o feminícido de Chiara Páez, de 14 anos, morta pelo seu namorado. A partir de então o movimento ganhou força em outros países como Peru, Uruguai, Itália, Alemanha, Brasil e México, conta Peker.
Tomando proporções mundiais e expandindo-se ao Ocidente, “a marcha despertou uma nova consciência global na luta contra a violência de género” e em 2017 o movimento #MeToo explodiu.
Voltando à Argentina, o movimento relacionou-se com a luta e resistência das Mães e Avós da Plaza de Mayo, em sua busca por filhos e netos sequestrados na ditadura (1976-1983). Mas agora, Peker relata um país que sofre “um revés extremo e misógino”.
Oficina del Presidente/Twitter
Luciana Peker denuncia que Milei ataca feminismo porque movimento é inimigo do fascismo
“Desde que Javier Milei tomou posse em dezembro de 2023, seu governo tem implementado uma estratégia chocante que permite ataques ao feminismo, o que é um enorme problema para a Argentina”, escreve.
A autora ressalta “a grande virtude do feminismo” em conquistar direitos para as mulheres, mas alerta para o quão perigoso pode ser o atual contexto de perseguição ao movimento feminista, “capacidade de transformar o cenário político de um mundo afogado em resignação”.
“O feminismo transforma, unifica e revitaliza. O feminismo é esperança – e isso faz dele o inimigo do neofascismo, que divide, individualiza e esmaga”, explica a escritora.
Entre as ações ´práticas do governo de Milei contra as mulheres está o fechamento do Ministério da Mulher, Gênero e Diversidade, cumprindo promessa que o político de extrema direita fez em campanha. Essa medida reduziu as políticas contra a violência de gênero e “colocou em risco o direito ao aborto legal, seguro e gratuito”, explicou Peker.
“Milei se manifestou contra o feminismo e abusou verbalmente das mulheres, a tal ponto que uma jornalista saiu de um programa de TV ao vivo depois de ouvir do presidente: “Eu poderia pegar uma [arma] 9 mm e colocá-la na sua cabeça”, exemplifica.
Por fim, Peker pede que “as mulheres do Ocidente trabalhem conosco para pôr fim a esta opressão violenta”, em especial quanto aos seus trabalhos, que muitas vezes sofrem tentativa de censura por denunciar a violência de gênero.
“Apoie as palavras das nossas mulheres para que a violência não nos silencie e a asfixia econômica não roube novamente as nossas vozes. Nossa liberdade não pode ser adiada. Nem nossas palavras”, finaliza o artigo.