O anúncio da confirmação da confissão do assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira e da descoberta de corpos pela Polícia Federal no Território Indígena do Vale do Javari, nesta quarta-feira (15/06), “trouxe um triste fim a uma busca de 10 dias que horrorizou a nação”, escreveu o jornal britânico The Guardian.
Para o jornal, a notícia escancara os “crescentes perigos enfrentados por aqueles que ousam defender o meio ambiente e as comunidades indígenas do Brasil”, em um ataque histórico sob o presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro.
O periódico destacou que o local identificado pelo suspeito de assassinato fica a 1h40 de barco da cidade de Atalaia do Norte e mais 3,1 km a pé em mata fechada. “Após uma operação de um dia inteiro, envolvendo exército, marinha e polícia, o Guardian presenciou a retirada dos corpos daquela área, conhecida como Lago do Preguiça, sob o manto da escuridão”, disse o jornal.
“As autoridades brasileiras demoraram a responder [ao alerta do desaparecimento] e foram as comunidades indígenas que fizeram a primeira descoberta inquietante no sábado, quando encontraram mochilas, roupas e itens pessoais pertencentes aos dois homens”, acrescentou a reportagem britânica.
O Guardian ainda descreveu que Eliseio Marubo, advogado indígena, amigo próximo de Bruno e representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javarí (Univaja), tinha lágrimas escorrendo pelo rosto ao dizer que sente uma “dor indescritível” por ter perdido um irmão e uma parte de sua história.
A emissora latino-americana TeleSur, por sua vez, destacou que Pereira recebeu ameaças de grupos criminosos “que invadem terras protegidas para explorar seus recursos” e ressaltou que a Univaja qualificou o assassinato da dupla como “crime político”, já que ambos eram “defensores dos direitos humanos”.
“O desaparecimento de Phillips e Pereira provocou uma onda de solidariedade internacional e mais uma vez inflamou as críticas ao governo Bolsonaro, acusado de incentivar invasões de terras indígenas e sacrificar a preservação da Amazônia pela exploração econômica”, explicou a emissora.
Alberto César Araújo/Amazônia Real
Manifestação em frente a sede da Funai em Manaus após a notícia da confirmação dos homicídios de Bruno Pereira e Dom Phillips
Já a emissora televisiva Al Jazeera afirmou que as últimas notícias marcam uma “conclusão sombria para um caso que levantou alarme global”, lembrando que elas também se relacionam com o governo de Bolsonaro e que “despertaram preocupação no Parlamento britânico na quarta-feira”.
Além disso, o jornal catari explicou que Pereira e Phillips estavam “em uma remota área de selva perto da fronteira com a Colômbia e o Peru”, que abriga “o maior número de indígenas isolados do mundo”.
“A região foi invadida por pescadores ilegais, caçadores, madeireiros e garimpeiros, e a polícia diz que é uma rota importante para o tráfico de drogas”, descreveu Al Jazeera.
A agência de notícias Reuters destacou que as informações do desaparecimento dos homens “ecoaram globalmente, com organizações de direitos humanos, ambientalistas e defensores da imprensa pedindo a Bolsonaro que intensificasse as buscas após um início lento”.
“Bolsonaro, que já enfrentou duras perguntas de Phillips em uma entrevista coletiva sobre o enfraquecimento da aplicação da lei ambiental, disse na semana passada que os dois homens ‘estavam em uma aventura que não é recomendada’”, escreveu a agência, acrescentando que o presidente sugeriu que o jornalista “havia feito inimigos escrevendo sobre questões ambientais”.
O argentino Pagina 12 indicou que a morte da dupla teria sido “supostamente em vingança pela luta contra a pesca ilegal em territórios indígenas” e que os suspeitos do assassinato, os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, presos na terça (14/06), “disseram que decidiram cometer o assassinato depois que Pereira os surpreendeu em práticas de pesca consideradas ilegais”.
“Os réus teriam levado os dois homens para um local isolado de um rio onde os assassinaram, desmembraram e queimaram, para depois enterrar seus restos mortais em terra firme”, descreveu o periódico.