A Justiça de Mianmar condenou nesta segunda-feira (03/09) dois jornalistas a sete anos de prisão por violação da Lei de Segredos de Estado. Os repórteres da Reuters Wa Lone, 32, e Kyaw Soe Oo, 28, foram sentenciados pelo juiz Ye Lwin por investigarem documentos confidenciais sobre a repressão dos muçulmanos rohingya.
De acordo com o magistrado à frente do caso, “os réus violaram a seção 3.1 da Lei de Segredos Oficiais”, mas, como aguardavam a sentença detidos – desde o dia 12 de dezembro – teriam os meses de prisão acrescidos à pena de sete anos. Os dois jornalistas declararam inocência e podem recorrer ao tribunal regional e à Suprema Corte.
O secretário do Exterior britânico, Jeremy Hunt, disse que “prender jornalistas que escrevem sobre verdades inconvenientes é um golpe inconcebível à liberdade de imprensa e na verdade a liberdade de todo mundo” e declarou que viajará a Mianmar para averiguar o caso diretamente com as autoridades.
Michelle Bachelet, chefe de direitos humanos da ONU, pediu ao governo que liberte os dois jornalistas, além de chamar o julgamento de “farsa”. De acordo com a ex-presidente do Chile, os condenados divulgaram algo de “interesse público”.
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Comunidade internacional diz que Forças Armadas de Mianmar são responsáveis por repressão contra minoria muçulmana (Wikicommons/Reprodução)
O caso acontece uma semana após a divulgação de um relatório em que a ONU denunciou as Forças Armadas de Mianmar como responsáveis pela violência que levou ao êxodo de ao menos 700 mil pessoas da minoria étnica no estado de Rakhine para Bangladesh.
Polêmica internacional
Com a decisão da Justiça, cresce a pressão ao governo da dirigente Aung San Suu Kyi, uma vez que a comunidade mundial atribui o “genocídio internacional” à operação militar do país que matou e deslocou pessoas em 2017.
Desde então, a líder perdeu premiações ligadas aos direitos humanos, como o prêmio de liberdade de Edimburgo, desassociado de seu nome recentemente. A governante já ganhou um prêmio Nobel da Paz, mas o Comitê da premiação disse que não permite a anulação da honra internacional.