As autoridades direitistas da Itália expressaram repúdio, nesta terça-feira (19/03), sobre a decisão do conselho escolar do colégio Iqbal Masih, sediado na comuna italiana de Pioltello, próximo ao Milão, de fechar a instituição em 10 de abril para permitir que seus alunos muçulmanos celebrem o último dia do Ramadã.
A medida em questão já havia sido definida pelo instituto no ano passado, por meio de seu calendário escolar divulgado em 19 de maio de 2023.
Segundo o diretor da escola, Alessandro Fantoni, a instituição entendeu que a suspensão se tratava de uma decisão correta, uma vez que 40% dos estudantes são muçulmanos. Acrescentou também que nos últimos anos, por conta das celebrações do fim do Ramadã, a taxa de faltas era muito elevada, contando apenas com a presença de três ou quatro alunos nas salas de aula.
Porém, Fantoni sofreu críticas das autoridades italianas de direita. O vice-premiê e ministro dos Transportes, Matteo Salvini, classificou a medida como “inaceitável” e “contra os valores, identidade e tradições do país”.
“Este não é o modelo de Itália e de Europa que queremos”, afirmou Salvini.
Já o ministro da Educação, Giuseppe Valditara, declarou ter solicitado “aos competentes do Ministério que verificassem as razões educativas que levaram à decisão da alteração do calendário escolar regional e a sua compatibilidade com a regulamentação”.
Para Valditara, “as escolas não podem estabelecer novos feriados direta ou indiretamente” e garantiu que seu objetivo “é fazer cumprir a lei, a legalidade, as regras”.
Por outro lado, a medida foi tida como positiva para a prefeita de Pioltello, Ivonne Cosciotti, do Partido Democrático (PD), que classificou a decisão como “um ato de civilidade”.
Argumentos da escola
De acordo com o conselho escolar, a decisão foi baseada no decreto sobre a autonomia de cada instituição educacional. A legislação italiana diz que a autonomia é “uma garantia do pluralismo cultural que se materializa no planejamento e implementação de intervenções de educação, formação e instrução que visam o desenvolvimento da pessoa humana, adequadas aos diferentes contextos, à demanda das famílias e às características específicas dos sujeitos envolvidos”.
Nesse sentido, os institutos têm sua própria autonomia administrativa, didática e organizacional, o que também permite que modifiquem o calendário escolar.
“A escolha do instituto se enquadra nas prerrogativas ditadas pela autonomia […] É verdade que vivemos em um país de tradição católica, mas gostaria de recordar que o ensino dessa religião na escola não é obrigatório. O ministro [da Educação] tem poucas apurações”, afirmou Antonello Giannelli, presidente da Associação Nacional de Diretores, rebatendo o posicionamento de Valditara.
A escola também afirmou que adotou uma medida de compensação, de forma que ela fique fechada em 10 de abril e antecipe para um dia o início das aulas em setembro.
O Instituto Iqbal Masih inclui uma creche, uma escola primária e secundária e leva o nome de uma criança paquistanesa que morreu aos 12 anos em 1995, após ter sido vendida pelo pai a um comerciante de tapetes e forçada a trabalhar acorrentada. O menino, porém, rebelou-se e a partir de então se tornou um símbolo da luta contra o trabalho infantil.
O Ramadã corresponde ao nono mês do calendário islâmico e os muçulmanos acreditam que foi a data na qual o livro sagrado, o Alcorão, foi revelado. Segundo a religião muçulmana, o período ensina a ter empatia com as pessoas mais pobres, a exercer controle sobre si mesmo e a mostrar devoção a Alá.
(*) Com Ansa