As autoridades italianas recuperaram nesta quarta-feira (01/03) o corpo de mais um migrante no mar da costa de Cutro, na região da Calábria, elevando para 67 o número de vítimas de um naufrágio ocorrido no último dia 26.
De acordo com as informações oficiais, trata-se de uma menina, cuja identidade e idade não foram divulgadas, que foi recuperada por socorristas que atuam na zona da tragédia.
Até o momento, não há confirmação do número exato de pessoas que estavam na embarcação, mas estima-se que eram entre 180 e 250 migrantes vindos da Síria, Afeganistão, Iraque e Irã. Com isso, a expectativa é de que pelo menos 100 pessoas ainda estão desaparecidas, já que 80 foram resgatadas com vida.
Também nesta quarta foi aberto um velório público para as vítimas do naufrágio em um estádio esportivo de Crotone, capital da província onde fica Cutro.
UE tem ‘dever moral’ de evitar tragédias com migrantes
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, enviou uma carta para a União Europeia afirmando que o bloco tem o “dever moral” de evitar novas tragédias com migrantes, e que é preciso agir politicamente sobre o tema de maneira incisiva.
Não se trata, infelizmente, de um caso isolado. Na Itália, há muitos anos choramos tragédias como essa do último domingo. É nosso dever, moral antes que político, fazer de tudo para evitar que desgraças como essa se repitam”, disse Meloni.
A líder do Executivo italiano afirmou que, no último Conselho Europeu, realizado em fevereiro, “identificamos algumas medidas que vão na direção certa, mas o fator tempo é decisivo”.
“É fundamental e urgente adotar rapidamente iniciativas concretas, fortes e inovadoras para combater e retirar o incentivo para as saídas ilegais, recorrendo também a urgentes envios financeiros extraordinários para os países de origem e trânsito até que colaborem ativamente”, acrescentou.
Meloni ainda pontuou que “é fundamental distinguir o acolhimento dos deslocados e refugiados das políticas migratórias de quem, compreensivelmente, pede para vir à Europa por razões econômicas” e voltou a pedir que a “Itália não seja deixada sozinha” nos debates sobre isso.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, confirmou o recebimento da carta italiana por meio de seu porta-voz, Barend Leyts, e confirmou que o tema será debatido no próximo encontro dos líderes do bloco, agendado para 23 e 24 de março.
Twitter/The Civil Fleet
Após naufrágio, 100 pessoas ainda estão desaparecidas e 80 foram resgatadas com vida
Frontex
A carta de Meloni surge em um momento também de tensão entre o governo da Itália e a agência da União Europeia para controle de fronteiras, Frontex, que trocam acusações sobre a embarcação superlotada que naufragou em Cutro.
Na terça-feira (28/02), a Frontex disse que havia alertado o governo italiano no fim do último sábado (25/02) sobre uma embarcação superlotada que navegava no Mediterrâneo.
Em novas informações divulgadas nesta quarta-feira, o e-mail enviado pela Frontex às 23:03 do sábado (25/02) apontava o avistamento do barco “com possíveis outras pessoas sob cobertura”, mas que tinha uma “boa flutuabilidade” naquele momento.
“A bordo, era apenas visível uma pessoa. A embarcação navegava sozinha e não haviam sinais de perigo, tinha uma boa flutuabilidade. Há uma significativa resposta térmica das portas abertas (revelada por uma câmera térmica a bordo do avião). Esse fato e outros indicadores causaram suspeição nos especialistas da Frontex. Mesmo que só uma pessoa a bordo fosse vista, de fato, havia uma parte submersa significativa, que indicava que muitas pessoas estavam sob a ponte”, informou a Frontex nesta quarta.
Por sua vez, o ministro do Interior da Itália, Matteo Piantedosi, afirmou a parlamentares que essa notificação da agência europeia não deu nenhum alerta de risco para os italianos.
“O avião da Frontex que identificou a embarcação depois das 22h do dia 25 de fevereiro, a 40 milhas náuticas da Itália, não tinha informado sobre uma situação de perigo ou estresse a bordo, evidenciando a presença de uma pessoa desprotegida e outras sob proteção e uma boa flutuabilidade. Mas, depois, houve uma piora nas condições meteorológicas”, afirmou o titular da pasta.
Apesar das declarações, o governo de Meloni aprovou em dezembro passado um decreto-lei para restringir a atividade de navios de ONGs humanitárias no Mediterrâneo, dizendo que “suas atividades encorajam pequenos barcos que transportam requerentes de asilo a tentar a perigosa travessia do norte da África para a Itália”.
Ainda que a lei tenha sido duramente criticada por muitos setores, incluindo as Nações Unidas e o Conselho da Europa, a Itália multou e restringiu as atividades do navio humanitário Geo Barants, da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), na última quinta-feira (23/02).
A embarcação foi proibida de operar por 20 dias e seus tripulantes foram multados em 10 mil euros por supostamente não fornecer às autoridades italianas todas as informações necessárias sobre desembarques de migrantes.
(*) Com Ansa