A alta comissária das Nações Unidas (ONU) para Direitos
Humanos, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, afirmou nesta segunda-feira
(10) que enviará uma equipe para avaliar o “forte crescimento” de
“atos de violência e de racismo” contra migrantes, negros e ciganos
na Itália.
A declaração foi dada durante a sessão de abertura do
Conselho da ONU para os Direitos Humanos, que se reúne até o próximo dia 28 de
setembro, em Genebra, Suíça. Uma missão análoga será enviada à Áustria, que faz
fronteira com a Itália.
“Queremos enviar pessoal à Itália para avaliar o relato
de um forte incremento dos atos de violência e de racismo contra migrantes,
pessoas de ascendência africana e ciganos”, declarou Bachelet, que assumiu
o Acnudh em 1º de setembro.
Nos últimos meses, a Itália convive com recorrentes
casos de agressão contra minorias, desde migrantes e refugiados até ciganos. No
fim de agosto, um grupo de eritreus foi recebido em Rocca di Papa, nos
arredores de Roma, com uma manifestação hostil de movimentos neofascistas.
Além disso, diversos migrantes e até uma menina cigana de 13
meses foram atingidos por disparos de armas de ar comprimido. Em Palermo, um
solicitante de refúgio senegalês de 19 anos foi espancado e chamado de
“negro sujo” enquanto trabalhava em um bar.
Não há, no entanto, estatísticas oficiais que permitam
constatar um aumento nos crimes de ódio no país. Recentemente, o ministro do
Interior Matteo Salvini, responsável pelo endurecimento das políticas
migratórias do governo, foi denunciado por “instigação ao ódio
racial” em postagens nas redes sociais, como uma na qual dissera que havia
acabado a “mamata dos clandestinos”.
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“A Itália acolheu 700 mil migrantes nos últimos anos, muitos dos quais clandestinos, e nunca recebeu ajuda dos outros países europeus, então não aceitaremos lições de ninguém, quanto menos da ONU, que se confirma inutilmente custosa e desinformada”, rebateu o ministro.
Mediterrâneo
Bachelet também criticou a decisão da Itália de fechar seus portos para navios de ONGs que resgatam pessoas no Mediterrâneo, medida defendida e adotada por Salvini.
“Esse tipo de abordagem política e de outros episódios recentes têm consequências devastadoras para muitas pessoas já vulneráveis. Ainda que o número de migrantes que atravessam o Mediterrâneo tenha caído, a taxa de mortalidade nos primeiros seis meses do ano foi ainda mais alta em relação a 2017”, disse.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 71.779 deslocados internacionais concluíram a travessia do Mediterrâneo Central em 2018, queda de 48% em relação aos 138.269 do mesmo período do ano passado. Já a quantidade de mortes ou desaparecimentos caiu de 2.560 para 1.565 (-38,9%).
Contudo, a taxa de mortalidade dessas viagens subiu de 1,85% para 2,18%.