A Interpol (Agência Policial Internacional) está prestes a eleger seu novo presidente. O único candidato, no entanto, é um general dos Emirados Árabes Unidos acusado de acobertar torturas dentro da prisão. Ahmed Nasser al-Raisi era o Inspetor Geral da Polícia no momento em que dois prisioneiros foram torturados no país do Oriente Médio, segundo uma das vítimas.
Em 2018, o jovem pesquisador britânico Matthew Hedges passou algumas semanas nos Emirados Árabes Unidos para seu trabalho acadêmico. Ao final de sua estadia, foi preso por seis meses, a maior parte do tempo em uma solitária.
“Por sete semanas, fui submetido a interrogatórios muito duros, às vezes por até 15 horas por dia. Algumas vezes, eles me impediam de dormir e em outras, me ameaçavam com violência física”, explicou o pesquisador.
“Eu podia ouvir pessoas sendo espancadas e torturadas em outras salas. Então, fui torturado psicologicamente e disse o que eles queriam ouvir para evitar a tortura física”, relatou
Durante sua prisão, Hedges assinou uma confissão e foi condenado à prisão perpétua por espionagem no país em benefício do Reino Unido. Contudo, ele foi imediatamente perdoado e pôde retornar a seu país.
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Ahmed Nasser al-Raisi (de unforme azul), acusado de encobrir torturas, é o provável novo diretor da Interpol
Tortura contra um torcedor de futebol
No período em que essa tortura aconteceu, Ahmed Nasser al-Raisi era o Inspetor Geral da Polícia nos Emirados Árabes Unidos. Hedges acusa o chefe de ter responsabilidade sob sua tortura, assim como sob a de um torcedor de futebol, preso e torturado por duas semanas por usar uma camisa de futebol do Catar.
Durante sua prisão, Matthew Hedges nunca teve contato direto com o general al-Raisi. Mas para o britânico, o oficial do alto escalão era responsável pela organização e supervisão das forças de segurança dos Emirados Árabes Unidos. Portanto, necessariamente estava ciente dos métodos utilizados.
O britânico não se conforma com a indicação do oficial para o comando da Interpol, uma instituição internacional encarregada de travar a luta por justiça. Matthew Hedges fez um apelo para que os membros do conselho desistissem de indicar o general Nasser Ahmed al-Raisi para o cargo de presidente devido ao fraco histórico de direitos humanos de Abu Dhabi.
“Se a Arábia Saudita, a Rússia, a China ou o Irã tentassem se candidatar à presidência da Interpol, eles seriam corretamente condenados”, disse Hedges ao jornal Daily Express. “Basta olhar para o histórico dos Emirados Árabes Unidos sobre liberdade de expressão, padrões judiciais, independência do judiciário e do legislativo.”
É necessária uma maioria de dois terços para eleger o novo presidente da Interpol. A escolha ocorre em dezembro.
O atual presidente da organização é o sul-coreano Kim Jong-yang. Ele assumiu o cargo após a demissão surpresa do chinês Meng Hongwei. O ex-vice-ministro da Segurança havia desaparecido repentinamente durante uma visita ao país, com autoridades em Pequim o acusando de corrupção. Em janeiro passado, ele foi condenado a 13 anos e meio de prisão na China.