Com os mesmos padrões de registro, sem foto, sem campanha, mas com dinheiro, candidatos “fantasmas” se lançaram ao Senado Estadual da Flórida com objetivo de drenar votos de adversários – em sua maioria, de democratas. A prática foi descoberta pela emissora norte-americana Local 10 News.
Seguindo pistas em documentações de candidatos locais, a emissora comparou informações que apontam conexões para a mesma fonte de financiamento, o mesmo padrão de endereço de e-mail e a mesma data de inscrição ao pleito. No entanto, nada disso é ilegal no Estado da Flórida.
Mas como tais conexões foram descobertas? A investigação começou após uma a produtora-executiva da Local 10 News, Natalie Morera de Varona, perceber um padrão estranho enquanto procurava fotos dos candidatos. Um deles não aparecia em nenhuma pesquisa e não retornava ligações.
Alexis Rodriguez, o candidato, realmente existe, mas a emissora descobriu que ele havia mentido o endereço no formulário de inscrição – ele não morava na casa há cinco anos.
Ao ser confrontado por jornalistas, Rodriguez primeiro mentiu sobre sua identidade; depois, não deu respostas concretas sobre como havia realizado sua campanha na disputa por uma cadeira ao Senado do Distrito 37 e, muito menos, deu informações em relação à falta de arrecadação de fundos para a disputa – havia apenas um único depósito, que serviu para pagar o registro da candidatura.
Após Rodriguez, a emissora encontrou outros dois “fantasmas”: um deles é Celso Alfonso, de 81 anos, que concorreu ao Senado pelo Distrito 39.
Michael Appleton/Mayoral Photography Office
Candidatos aparecem sem fotos e sem fundo de campanha em eleição estadual na Flórida
Assim como Rodriguez, Alfonso também mentiu sobre sua identidade ao ser questionado pelo Local 10 News, mas, depois, admitiu ser o candidato. O aposentado afirmou que sempre quis ser servidor público, que teria se inscrito sozinho e colocou sua esposa como tesoureira da campanha.
Conexões de informações
Tanto Alfonso, como Rodriguez se inscrevem ao pleito de forma independente, mas há registros de filiação recente de ambos ao Partido Republicano. Outro ponto é a data de inscrição realizada no mesmo dia: 12 de junho de 2020.
As semelhanças seguem ainda na estrutura do e-mail usado para o registro da campanha: inicial do primeiro nome, sobrenome, número do distrito e o ano de 2020.
Ambos apresentaram uma única contribuição de campanha de US$ 2.000 (cerca de R$ 10.000). Os registros de despesas das campanhas são listados tendo a rubrica do grupo “Our Florida” (Nossa Flórida). As doações que essa entidade recebeu também vêm do mesmo lugar, uma empresa registrada em Atlanta, na Geórgia, chamada “Proclivity”, que contribuiu com US$ 370.000 (cerca de R$ 2.020.200).
Mesmo sem campanha, ambos receberam votos. Rodriguez, do Distrito 37, angariou 6.336 votos, 3% na contagem final. A votação local está em recontagem por conta da pequena diferença de 31 votos entre a candidata republicana Ileana García (que lidera) e o democrata José Javier Rodriguez. Ou seja: a candidatura de Rodríguez pode efetivamente ter privilegiado a republicana.
No Distrito 39, Alfonso recebeu 3.606 votos, 1,6% na contagem final. Neste caso, o resultado não teve influência, já que a republicana Ana Maria Rodriguez venceu com 55,6% dos votos, total de 122.974. O democrata Javier Fernandez ficou em segundo lugar, com 42,8%, recebendo 94.548 votos.
O mesmo cenário também foi apontado no Distrito 9. Justine Iannotti, concorrendo como independente, recebeu 5.766 votos, 2% no resultado final. A eleição da candidatada fantasma não foi o suficiente para resultar em recontagem, pois Jason Brodeur, Partido Republicano, venceu com 50%, 141.350 votos. Seguido da democrata Patricia Sigman, com 48% e 133.630 votos.