Os alemães vão às urnas neste domingo (26/09) para escolher os novos deputados do país e, por tabela, o próximo chanceler, que vai substituir Angela Merkel na chefia de Governo. A votação marca o começo do fim da era da premiê, que, a depender do resultado da eleição, pode se tornar a política que mais tempo ficou no cargo – mais de 16 anos.
Como a Alemanha funciona no regime parlamentarista, a escolha do próximo premiê ficará a cargo do novo Bundestag – o parlamento alemão. Mesmo não sendo obrigados a tal, os principais partidos do país apresentaram candidatos à chefia do Governo alemão: o vice-chanceler Olaf Scholz concorre pelo SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha, de centro-esquerda); o governador da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, pela CDU (União Democrata-Cristã, partido de Merkel, de centro-direita); e a deputada Annalena Baerbock, pelos Verdes.
Entenda: Por que Merkel decidiu não disputar a reeleição na Alemanha?
Christian Lindner, do FDP (Partido Liberal da Alemanha, de direita) completa a lista de postulantes divulgada pelos partidos. O esquerdista Die Linke e o ultradireitista AfD (Alternativa para a Alemanha) não apresentaram candidatos únicos e têm suas campanhas conduzidas pelos líderes dos partidos. Caso tenham o direito a comandar a formação de governo, eles precisarão indicar alguém para chefiar a coalizão – e, por consequência, o país.
Como é a eleição na Alemanha?
O sistema eleitoral alemão é diferente do brasileiro e cada eleitor tem direito a dois votos: o primeiro, chamado de mandato direto, escolhe um candidato do distrito onde esse eleitor mora. O segundo voto é dado a um partido, que apresenta uma lista de candidatos. Metade do Bundestag (que pode ultrapassar 770 cadeiras neste ano) é escolhido pelo mandato direto; a outra, pelos votos nas listas.
Isso quer dizer que o chanceler não é escolhido pelo voto direto, mas pelos deputados no Parlamento, a depender das coalizões feitas pelos partidos.
O segundo voto serve justamente para garantir que os partidos estejam proporcionalmente representados a partir dos resultados eleitorais. Por esse motivo, o número de cadeiras no Parlamento se altera de uma eleição para outra, já que elas vão sendo sucessivamente criadas a fim de manter a proporcionalidade.
Há uma cláusula de barreira: Se, no segundo voto, o partido não obtiver ao menos 5% em todo o país, precisará ter obtido ao menos três cadeiras em mandato direto para poder entrar no cálculo de representação do Parlamento. Caso um partido tenha conseguido cadeiras, mas não atingiu a porcentagem mínima, não perde a vaga, mas não fará parte de nenhum bloco.
Como estão as pesquisas na Alemanha?
As pesquisas mostram um resultado indefinido, com leve vantagem para o SPD, de Scholz. No começo do mês, os social-democratas tomaram a dianteira nos levantamentos, mas, à medida em que o pleito se aproximou, os democrata-cristãos conseguiram reduzir a diferença que os separava do primeiro colocado.
Segundo levantamentos divulgados pelas emissoras ZDF e RTL, o SPD aparece na frente, com cerca de 25% das intenções de voto; a CDU tem entre 22% e 23%, a depender da pesquisa; os Verdes aparecem em terceiro nos dois levantamentos, com números que variam entre 16,5% e 17%, seguidos pelo FDP, pela AfD e pelo Die Linke.
Os números apontam para a necessidade de coalizão para formar governo – ou seja, nenhum partido conseguirá obter maioria no Parlamento sozinho. A dispersão dos votos em várias agremiações, com nenhuma passando dos 25%, também mostra que, caso SPD e CDU/CSU decidam não se juntar novamente para governar, qualquer coalizão precisaria, no mínimo, de três partidos, independentemente de qual deles vá ocupar a chancelaria. A CSU é a representante bávara da CDU e só concorre na Baviera.
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Scholz (esq.), Laschet (centro) ou Baerbock (dir.): um deles será o novo chanceler da Alemanha
A pulverização promete causar um impasse parecido com o de 2017, quando as negociações para formação do governo Merkel 4 levaram meses. Lindner, por exemplo, já avisou que preferiria que o FDP se coligasse com a CDU/CSU para formar governo, mas, para isso, seria necessária, de acordo com as pesquisas, a participação dos Verdes – que tendem a preferir uma coligação com o SPD.
Por sua vez, os social-democratas, a se confirmarem os números, não conseguirão formar governo somente com os Verdes, obrigando uma coligação ou com o FDP ou com Die Linke, partido herdeiro do SED (Partido Socialista Unificado da Alemanha), que governava a Alemanha Oriental até a reunificação do país. Todos os partidos, de todos os espectros ideológicos, se recusam a fazer coligação com a extrema-direita representada pela AfD.
A pesquisa da ZDF mostra que a coligação predileta do eleitor alemão seria uma SPD-Verdes (17%), apesar de ela não ser suficiente; em seguida, com 9% das preferências cada, aparecem a Grande Coalizão (SPD-CDU/CSU) e uma união SPD-Verdes-Die Linke.
O levantamento divulgado pela ZDF questionou em quem os alemães votariam se pudessem escolher diretamente um candidato. Scholz aparece disparado na frente, com 47%, seguido por Laschet, com 20%, e por Baerbock, com 16%.
A indefinição pode ajudar Merkel a quebrar um recorde até hoje detido pelo ex-chanceler democrata-cristão Helmut Kohl (1930-2017), que foi o que ficou mais tempo no poder (5.870 dias – o equivalente a 16 anos e 26 dias). Dependendo da duração das negociações, Merkel, que neste domingo completa 5.787 dias no cargo, pode ultrapassar Kohl – basta que não haja um novo governo formado até 19 de dezembro de 2021.
Desempenho da esquerda na Alemanha
Die Linke (que significa ‘A Esquerda’) repete nas duas pesquisas o desempenho apontado em outros, na faixa dos 6% das intenções de voto. Se confirmado, o resultado seria inferior ao obtido em 2017 (9,2%).
É improvável que Die Linke fique de fora do Parlamento por causa da cláusula de barreira, já que o partido ainda retém força em algumas áreas do leste do país (em especial em Berlim) e tem boas chances de conseguir mandatos diretos. Em 2017, a agremiação obteve cinco.