O papa Francisco recebeu nesta sexta-feira (23/09) uma série de cartas de órgãos civis e religiosos brasileiros pedindo para que o pontífice “se manifeste em prol da democracia no país” em meio ao contexto das eleições no próximo 2 de outubro.
Uma das cartas que compõem os documentos entregues para o chefe da Igreja Católica foi redigida pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, que também revelou o conteúdo do texto em seus canais.
“O Brasil prepara-se para escolher aqueles que irão dirigir os seus destinos, começando por quem irá assumir a presidência da República. Seria um momento de júbilo, de coesão nacional e de afirmação da soberania popular não fossem as ameaças que pairam sobre algo precioso para o povo brasileiro: a democracia”, ressalta o texto.
O documento sublinha os problemas econômicos que afetam muitos brasileiros, como o aumento da pobreza e da fome, e a violência “no campo ou na cidade”.
“Os eleitores vão às urnas pressionados não só pelas vicissitudes da vida, mas pelas ameaças de ruptura da ordem democrática. São ameaças que partem de quem parece não aceitar um resultado eleitoral que não lhe favoreça. Que são diuturnamente inflamadas pelo discurso de ódio propagado a partir de gabinetes oficiais. Que estigmatizam mulheres, afrodescendentes, indígenas, fiéis de distintas religiões, promovendo sobretudo o extermínio da juventude negra e pobre, no contexto de um projeto criminoso de armar a população”, acrescenta.
O candidato a deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) também entregou um documento similar à Francisco, no entanto, com conteúdo escrito pelo candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No documento, o ex-presidente fala do risco à democracia no caso de um segundo turno na disputa e defende medidas “urgentes” para acabar com a fome no Brasil.
Wikicommons
Comissão Dom Paulo Evaristo Arns, Educafro e candidato a deputado estadual Suplicy encaminharam cartas à Papa Francisco
“Levo carta do presidente Lula para o Papa. Na carta, o combate urgente à fome é defendido e relembramos minha luta pela renda básica que implementará em seu governo”, ressaltou Suplicy por meio das redes sociais.
Também entregou uma carta e participou do evento católico o grupo de economistas do Educafro, que alertou no documento o problema do racismo estrutural vivido no Brasil e citou as eleições deste ano.
“Com denúncias fortes contra o racismo estrutural, que domina o sistema político brasileiro e a estrutura da Igreja Católica no Brasil, o grupo entregou a carta ao papa Francisco. Essa carta tem tudo para fazer uma mexida nas eleições brasileiras, pois ela denuncia o sistema politico que é excludente, gerando estragos na vida do povo afro-brasileiro”, diz o Educafro.
Em longo texto, apontando casos de racismo tanto na sociedade como na instituição religiosa, o grupo ainda pede que o líder se manifeste tanto para os líderes da Igreja Católica e para os candidatos e partidos brasileiros pedindo por políticas públicas para as minorias.
“Que faça uma carta aberta aos partidos políticos brasileiros solicitando-os a não deixarem crescer, no seio da sociedade brasileira, práticas que estão em dissintonia com os valores do Reino de Deus, como a perseguição e morte de quase 100 parlamentares afro-brasileiros desde 2018 até 2022. Também solicitamos que cobre o compromisso de todos os presidenciáveis de se concluir o inquérito, julgamento e prisão dos mandantes do assassinato da Vereadora Marielle Franco”, pontua a organização.
(*) Com Ansa