A Federação Espanhola de Futebol (RFEF) informou, nesta terça-feira (05/09), que Jorge Vilda não é mais o técnico da seleção feminina de futebol do país. O anúncio foi apresentado como “uma das primeiras medidas de renovação” após o escândalo provocado pelo beijo forçado de Luis Rubiales, presidente da entidade, na jogadora Jenni Hermoso.
A RFEF “decidiu prescindir dos serviços de Jorge Vilda como diretor esportivo e técnico da seleção feminina, cargo, este último, que assumiu em 2015”, informou a federação em comunicado.
A continuidade de Vilda no cargo estava por um fio por sua relação próxima com o dirigente, a quem o treinador aplaudiu quando afirmou que não renunciaria à presidência da RFEF durante uma assembleia da federação. Essa proximidade foi evidenciada pelo próprio Rubiales, quando nesse mesmo discurso ele propôs a renovação do contrato de Vilda no comando da seleção feminina e o aumento de seu salário para € 500 mil (R$ 2,6 milhões na cotação atual) por ano.
O cargo de treinador será ocupado pela primeira vez por uma mulher, a ex-jogadora do Barcelona Montsé Tomé, de 41 anos.
Desculpas por ato ‘inaceitável’
O anúncio da demissão de Vilda acontece no mesmo dia que a federação pediu “desculpas” pelo comportamento de Rubiales em outro comunicado, no qual anunciou “um conjunto de atuações” para melhorar a “governança” da entidade, “reparar” os danos causados e “garantir que estes comportamentos não se repitam”.
A federação indicou que “considera imprescindível pedir as mais sinceras desculpas ao futebol mundial como um todo, às instituições do futebol (Fifa, Uefa, FN), aos/às jogadores(as) de futebol, especialmente às jogadoras da seleção pelo comportamento totalmente inaceitável de seu mais alto representante institucional durante a final” da Copa do Mundo feminina.
“O dano causado ao futebol espanhol, ao esporte espanhol, à sociedade espanhola e ao conjunto de valores do futebol e do esporte foi enorme”, lamenta o texto, assinado por Pedro Rocha, presidente interino da RFEF desde que a Fifa suspendeu Rubiales por 90 dias.
Twitter/Selección Española Femenina de Fútbol
Ex-técnico da seleção espanhola, Jorge Vilda, Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola de Futebol, e jogadora da seleção
Desde 20 de agosto, Rubiales está no centro de uma enorme polêmica quando beijou, sem consentimento, a jogadora Jenni Hermoso durante a entrega de medalhas após a Espanha vencer a Inglaterra (1-0) na final da Copa do Mundo feminina, no Estádio de Sydney. Apesar de sua atitude ter gerado indignação internacional, o presidente da entidade defendeu que o beijo havia sido “consentido” e surpreendeu ao se recusar a renunciar, em um polêmico discurso durante uma reunião da RFEF.
“As ações do Sr. Rubiales não representam os valores defendidos pela Federação Espanhola, nem os valores da sociedade espanhola como um todo”, ressaltou a entidade esportiva, afirmando que está prestando “todo o apoio documental e administrativo” à Fifa e ao Tribunal Administrativo do Esporte (TAD), que analisa processos disciplinares contra o presidente suspenso.
Conduta “intacta”
Jorge Vilda havia sido criticado por 15 jogadoras da seleção em setembro de 2022, que afirmaram não querer continuar vestindo a camisa da Espanha enquanto ele continuasse à frente da equipe, causando “situações” que afetavam seu estado “emocional e pessoal” e seu “rendimento”.
Apesar disso, a RFEF não emitiu críticas ao técnico no comunicado da demissão e elogiou sua “conduta pessoal e esportiva intacta, sendo peça chave no notável crescimento do futebol feminino na Espanha”.
Segundo a entidade, “desde sua chegada à Federação, Jorge Vilda deu um impulso notável que se reflete nos grandes resultados obtidos. Como treinador, venceu duas vezes o [campeonato] Europeu sub-17 e também o sub-19, sendo a vitória na Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia sua maior conquista”, acrescentou a RFEF.