A Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) anunciou neste sábado (26/08) a suspensão temporária do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, “de todas as atividades relacionadas com o futebol a nível nacional e internacional”.
A sanção contra o dirigente foi tomada com base na agressão sexual cometida por ele durante a premiação da Copa do Mundo de Futebol Feminino, no domingo passado (20/08), na Austrália. Na ocasião, Rubiales segurou a cabeça da atacante Jenni Hermoso com as duas mãos e a forçou a beijá-lo na boca.
A medida da FIFA durará pelos próximos 90 dias, período em que o cartola deverá aguardar o julgamento do processo disciplinar aberto pela mesma entidade e que poderia resultar em seu banimento do esporte.
Nesta sexta-feira (25/08), Rubiales realizou uma coletiva na manhã desta sexta, na qual se esperava que ele renunciasse ao cargo, mas, pelo contrário, o dirigente se disse “vítima de uma tentativa de assassinato social”, assegurou que o beijo na jogadora foi “mútuo, espontâneo, eufórico e consentido”, e culpou o “falso feminismo” pela repercussão do caso.
A declaração do presidente da RFEF foi fortemente repudiada pela opinião pública e provocou uma nova onda de críticas além da revolta das atletas. Horas depois da coletiva, mais de 80 futebolistas espanholas anunciaram sua renúncia à seleção do país enquanto Rubiales continuar no cargo.
Alguns meios espanhóis já comparam a reação das jogadoras com o movimento “Me Too”, que surgiu da reação de atrizes e outras mulheres que trabalham na indústria do cinema norte-americano para protestar contra os casos de abuso sexual que começaram a vir à tona nos Anos 2010.
Além das futebolistas, quase toda a comissão técnica da seleção espanhola feminina apresentou sua renúncia, em movimento liderado pela auxiliar técnica Montserrat Tomé. A exceção foi o técnico Jorge Vilda, classificado por alguns veículos da imprensa esportiva ibérica como amigo pessoal de Rubiales.
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Luis Rubiales está suspenso por ao menos 90 dias, enquanto responde a processo disciplinar, também aberto pela FIFA
A própria jogadora Jenni Hermoso se manifestou nessa sexta-feira sobre o discurso do presidente da federação espanhola, e negou que houve consentimento no beijo forçado durante a premiação da Copa.
“As palavras do senhor Rubiales explicando o desafortunado incidente são categoricamente falsas e parte da cultura manipuladora da qual ele é partícipe (…) sua atitude (o beijo forçado durante a premiação da Copa) foi um ato machista, fora de lugar e sem nenhum consentimento da minha parte. Simplesmente, eu não fui respeitada”, afirmou a atacante.
Esta foi a terceira vez que a atleta se referiu ao caso. No mesmo domingo, no vestiário do Estádio Olímpico de Sydney, ela afirmou a suas companheiras que não gostou da atitude de Rubiales. A declaração está registrada em vídeo e viralizou nas redes sociais.
Nesta quinta-feira (24/08), em coletiva realizada na sede do Sindicato dos Futebolistas Profissionais da Espanha, Hermoso voltou a classificar o caso como “uma agressão” e pediu “medidas exemplares” contra o dirigente.
Entre as mais de 80 jogadoras que renunciaram à seleção espanhola de futebol feminino estão nomes destacados como os de Alexia Putellas (escolhida como melhor jogadora do mundo em 2022 pela Fifa), Olga Carmona (autora do gol do título da Espanha, na vitória por 1×0 contra a Inglaterra), Athenea del Castillo, Teresa Abelleira, Alba Redondo e Mariona Caldentey. Muitas delas justificaram a atitude nas redes sociais com mensagens de solidariedade a Jenni Hermoso.
Também houve renúncias de atletas homens, como Sergi Roberto e Borja Iglesias, que afirmaram que não voltarão a defender a seleção masculina enquanto Rubiales for o presidente da RFEF.
O repúdio ao caso também cria um problema para a seleção feminina de futebol da Espanha, que terá seu próximo compromisso oficial no dia 21 de setembro, quando se iniciará a disputa da Liga das Nações Europeias. No momento, a equipe tem apenas o técnico Vilda, que não poderá convocar nenhuma das mais de 80 atletas que renunciaram, e tampouco contará com os profissionais que o auxiliaram durante a Copa.
Com apoio da jornalista Bruna Angrisani, de Barcelona.
Com informações de Mundo Deportivo, RTVE e La Razón.