A ex-guerrilheira palestina Leila Khaled, da organização marxista-leninista Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), participou no último sábado (14) da mesa de abertura do evento Dilemas da Humanidade, que ocorre nesta semana em Joanesburgo, na África do Sul. Durante sua fala, Khaled relacionou a situação palestina ao cenário internacional, pontuando que “com a Palestina ocupada, não haverá paz no mundo”.
“Esta conferência trata dos dilemas da humanidade. Se estamos falando de pobreza, a Palestina é um exemplo. Se estamos falando de guerra, a Palestina é um exemplo. Se estamos falando de imperialismo, nós somos o povo que neste momento está enfrentando o imperialismo; nós somos o povo que trará a paz para o mundo se nos tornarmos livres”, disse a ex-guerrilheira. “Somos um povo de força, de vontade, de dignidade, de humanidade. Estamos defendendo a humanidade na Palestina. A Palestina não é só para os palestinos, é uma causa humana. Um problema da humanidade”.
Khaled, que tornou-se um ícone internacional da luta palestina após participar dos sequestros de dois aviões em 1969 e 1970, classificou o sionismo como um “movimento desumano e racista” durante sua fala, e denunciou a negação do Estado de Israel em seguir as resoluções das Nações Unidas. “A mídia agora está falando sobre o direito internacional. Eu digo: é uma mentira. Nós temos que aprender as lições, todos nós. A ONU tem várias resoluções, e ainda assim nenhuma delas foi implementada na Palestina”, disse a ex-guerrilheira, para quem “frente os imperialistas, os sionistas, os colonos – os opressores do povo, sejam quem for – a única forma é usar a força, a luta armada”.
Além de Khaled, participaram da mesa de abertura da conferência a palestina Arwa Abu Hashhash, do Partido do Povo Palestino, os sul-africanos Ronne Kasrils, ex-ministro de Inteligência da África do Sul, e Naledi Pandor, atual ministra de Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, e a norte-americana Claudia de la Cruz, do Partido para o Socialismo e a Libertação (PSL).
Dilemmas of Humanity
A ex-guerrilheira da FPLP, Leila Khaled, durante conferência na África do Sul
Quem é Leila Khaled?
Hoje com 79 anos, Leila Khaled nasceu em Haifa, em 1944, sob o Mandato Britânico na Palestina. Aos quatro anos de idade, sua família foi obrigada a se refugiar no Líbano, logo após as organizações paramilitares sionistas Irgun e Lehi massacrarem ao menos 107 civis palestinos desarmados na vila de Deir Yassin.
Já no Líbano, durante a juventude, Khaled se aproximou do Movimento Nacionalista Árabe (MNA) liderado por George Habash. Aos 16 anos, tornou-se membro oficial da organização. Após a desintegração do MNA, Leila se juntou à Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), organização marxista-leninista e secular também liderada por Habash.
Dois anos depois, no dia 29 de agosto de 1969, Khaled participou, ao lado de Salim Issawi, do sequestro do vôo 840 da TWA, que partiu de Roma rumo a Tel Aviv. Com a ação, que não resultou em nenhuma morte, dezenas de prisioneiros palestinos foram libertados por Israel em troca de dois passageiros israelenses que foram feitos reféns. A partir de então, a guerrilheira se tornaria um ícone da luta palestina, com sua foto usando o keffiyeh – o tradicional lenço palestino – e segurando um fuzil de assalto rodando todo o mundo.
No ano seguinte, em 6 de setembro de 1970, Khaled tentaria repetir a missão. Ao lado de Patrick Argüello, nicaraguense membro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), a guerrilheira sequestrou o vôo 219 da El Al, que partiu de Amsterdã rumo a Nova Iorque. Dessa vez, no entanto, a ação não seria bem-sucedida.
Durante o sequestro, Argüello seria morto por dois oficiais israelenses que estavam no avião, e Khaled dominada. Após um pouso de emergência em Londres, a guerrilheira seria presa pelas autoridades britânicas, até ser libertada, 24 dias depois, em troca de israelenses capturados em outras ações da FPLP.
Nos anos seguintes, Leila Khaled seguiria militando junto à FPLP, e se tornaria membro da União Geral de Mulheres Palestinas e do Conselho Nacional Palestino.