“O povo de Gaza se dirige ao abismo”, declarou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, nesta sexta-feira (08/12), em uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU sobre a guerra entre Israel e Palestina. O chefe da instituição multilateral mais importante das relações internacionais exigiu dos países-membros “esforços para pressionar por um cessar-fogo humanitário imediato, para a proteção dos civis e para a entrega urgente de ajuda humanitária”.
A reunião em Nova York acontece dois dias após Guterres ter invocado, pela primeira vez desde o início de seu mandato, o Artigo 99 da Carta da ONU, considerado a ferramenta “mais poderosa” do órgão, para tentar pressionar a comunidade internacional a agir efetivamente sobre os ataques comandados pelas autoridades de Tel Aviv à Faixa de Gaza.
“Os olhos do mundo e os olhos da história estão observando. É hora de agir”, declarou o secretário-geral.
“Bombardeios, hostilidades, restrições à circulação, escassez de combustível e comunicações interrompidas tornam impossível às agências das Nações Unidas e aos seus parceiros chegarem à maioria das pessoas necessitadas”, criticou Guterres sobre a conduta israelense, especialmente nesta recente e intensa fase da operação militar que tem como foco o sul de Gaza. Equipes humanitários relatam diariamente que os civis não têm por onde fugir, uma vez que todas as áreas do território palestino estão sob mira do exército de Israel.
“O povo de Gaza está sendo orientado a se locomover como ‘pinballs humanos’, de um lado para o outro, em zonas cada vez menores do sul, sem quaisquer recursos básicos de sobrevivência. Nenhum lugar em Gaza é seguro”, reforçou Guterres.
Um dos pontos destacados na reunião foi com relação à escassez de comida. Apesar do Programa Alimentar Mundial ter oferecido assistência a milhares de pessoas em Gaza, desde 7 de outubro, um dos grandes problemas tem sido a falta de segurança do transporte de recursos aos cidadãos, além de demandar minimamente 40 caminhões de alimentos por dia, um número muito acima da capacidade atual.
Reprodução/United Nations
‘O povo de Gaza se dirige ao abismo’ declara António Guterres, secretário-geral da ONU, sobre ataques de Israel aos palestinos
'Deveríamos fingir que não sabemos que o objetivo de Israel é a limpeza étnica?'
Em um discurso emotivo, o representante da Palestina na ONU, Riyad Mansour, reforçou a necessidade de um cessar-fogo aos países-membros do Conselho de Segurança.
“Deveríamos fingir que não sabemos que o objetivo [de Israel] é a limpeza étnica da Faixa de Gaza, a desapropriação e o deslocamento forçado do povo palestino, quando tantos representantes israelenses não puderam deixar de admitir isso?” indignado, questionou aos participantes da reunião.
“Se somos contra a destruição e o deslocamento do povo palestino, temos que ser a favor de um cessar-fogo imediato”, declarou.
Mansour chegou a mencionar a Segunda Guerra Mundial como exemplo, escancarando uma “contradição dos valores de humanidade” que se estabeleceu no mundo após o conflito uma vez que, agora, esses “horrores” são vistos em Gaza contra o povo palestino.
Israel se diz 'absolutamente' contrário ao cessar-fogo
Por outro lado, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, voltou a fazer duras críticas à figura da maior representatividade internacional.
“A guerra da Ucrânia não é uma ameaça à paz e segurança internacionais?” ironizou o diplomata israelense ao se referir à invocação do Artigo 99 feita por Guterres, que alertava que a guerra em Gaza “pode ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais”.
“Os milhões de sírios deslocados e as crianças cujos cadáveres foram encontrados espumando em Douma simbolizam uma ameaça à estabilidade regional? ” continuou Erdan, em mais uma referência a um ataque químico contra civis que investigadores internacionais determinaram ter sido cometido pela força aérea síria.
Tudo para dizer que “o verdadeiro caminho para garantir a paz é apenas por meio do apoio à missão de Israel. Absolutamente não por um cessar-fogo”. O embaixador israelense voltou a afirmar que a estabilidade regional do Oriente Médio só será alcançada “quando o Hamas for eliminado”.