As perspectivas de um cessar-fogo entre o Hamas e Israel em Gaza diminuíram no domingo (18/02) com as ameaças dos Estados Unidos em vetar mais um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU e os negociadores do Catar expressando pessimismo sobre a possibilidade de uma trégua.
Em Jerusalém, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que está determinado a realizar uma ofensiva terrestre em Rafah, onde 1,4 milhão de palestinos estão refugiados, apesar dos apelos de parte da comunidade internacional.
Concebido após a decisão do final de janeiro do Tribunal Internacional de Justiça, que pediu a Israel que evitasse qualquer possível ato de “genocídio” em Gaza, o projeto de resolução iniciado pela Argélia “exige um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes”, de acordo com a última versão checada pela AFP.
Argel convocou uma votação para terça-feira (20/02), mas os Estados Unidos já levantaram a ameaça de um veto, como fizeram em votações anteriores em meados de outubro e no início de dezembro, apesar da pressão da comunidade internacional sobre a crise humanitária em Gaza.
“Se a minuta atual fosse votada, ela não seria adotada”, disse a embaixadora do país na ONU, Linda Thomas-Greenfield, em um comunicado. A minuta da resolução “rejeita o deslocamento forçado da população civil palestina” e reitera seu pedido de libertação de todos os reféns feitos em Gaza durante o ataque de 7 de outubro.
Comunidade Internacional
Uma séria preocupação foi expressa em todo o mundo, inclusive pelo aliado, os Estados Unidos, em relação aos civis, a maioria deles deslocados, na cidade de Rafah, na fronteira fechada com o Egito.
Durante uma ligação telefônica com o presidente francês Emmanuel Macron, o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi, de acordo com seu gabinete, reiterou “a posição categórica do Egito de rejeitar o deslocamento de palestinos” para seu território.
Nos últimos dias, uma ONG egípcia e o Wall Street Journal informaram que o Egito está construindo um campo fechado e seguro no Sinai para abrigar refugiados palestinos no caso de uma ofensiva israelense em Rafah.
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1,4 milhão de palestinos estão refugiados em Rafah após ofensivas de Israel em Gaza
As negociações “não são muito promissoras”
As negociações envolvendo mediadores egípcios, norte-americanos e do Catar para obter uma trégua entre o Hamas e Israel, incluindo uma troca entre reféns israelenses e prisioneiros palestinos, que foram realizadas nas últimas semanas “não têm sido muito promissoras nos últimos dias”, disse o primeiro-ministro do Catar, Mohammed ben Abdelrahmane al-Thani, em Munique. Mas “faremos o possível para nos aproximarmos” de um acordo, acrescentou.
O Hamas, que assumiu o poder em Gaza em 2007, ameaçou sair das negociações sobre uma possível trégua se “a ajuda (humanitária) não for entregue no norte de Gaza”. Seu líder Ismaïl Haniyeh repetiu que seu movimento estava exigindo um cessar-fogo e a retirada israelense de Gaza como parte das negociações.
Essas condições têm sido repetidamente rejeitadas por Israel, cuja ofensiva em larga escala em Gaza arrasou bairros inteiros, deslocou 1,7 milhão de seus 2,4 milhões de habitantes e causou uma crise humanitária catastrófica, segundo a ONU.
No domingo, um porta-voz do Ministério da Saúde do enclave, anunciou que Hospital Nasser, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, o segundo maior hospital da região, está “completamente fora de serviço”.
Com a chegada de nova ajuda a Rafah no sábado (17/02), a ONU alertou que os habitantes da Faixa de Gaza estavam correndo o risco de morrer de fome. “Não vamos morrer por causa das bombas, vamos morrer de fome”, disse Mohammed Nassar, um palestino de 50 anos de Jabaliya, no norte de Gaza.
Em Tel Aviv, milhares de israelenses se manifestaram contra o governo de Netanyahu e pediram que ele chegasse a um acordo para libertar os reféns. “Imploro ao primeiro-ministro e ao governo que negociem (…) Não condenem meu marido à morte”, disse Sharon Aloni-Cunio, uma refém que foi libertada com seus gêmeos, enquanto seu marido ainda está preso em Gaza.
No exterior, manifestações em solidariedade aos palestinos ocorreram em várias cidades, incluindo Roma, Londres, Estocolmo, Istambul e Cidade do México.