A morte de centenas de palestinos durante distribuição de ajuda humanitária, incluindo comida, na Faixa de Gaza nesta quinta-feira (29/30) pode complicar as já intrincadas negociações entre Hamas e Israel para um cessar-fogo temporário.
Segundo o grupo político islâmico, pelo menos 104 pessoas foram mortas por forças israelenses e 760 ficaram feridas enquanto esperavam em uma fila por alimentos na Cidade de Gaza, principal município do enclave e devastado nas primeiras semanas do conflito perpetrado por Israel.
Na madrugada desta quinta-feira, milhares de pessoas concentraram-se na rua al-Rashid, perto de Nablus, no oeste de Gaza, para receber ajuda humanitária. Nablus é a principal cidade do norte da região, onde os palestinos descreveram ter sido forçados nos últimos dias a comer ração animal.
De acordo com testemunhas e os serviços de saúde de Gaza, os soldados israelenses estavam nas proximidades do comboio humanitário e abriram fogo contra esta multidão que correu para os caminhões.
“As negociações conduzidas pela liderança do movimento não são um processo aberto a despeito do sangue do nosso povo”, alertou um comunicado do Hamas, que já culpa Israel por um eventual fracasso das tratativas.
No entanto, um porta-voz militar de Israel disse que palestinos “cercaram” e “saquearam” caminhões de ajuda no norte de Gaza e colocaram tropas israelenses em risco.
“No incidente, dezenas de pessoas foram pisoteadas pela multidão”, afirmou o Exército, acrescentando que os soldados “dispararam contra quem cercava” o comboio. Além disso, as forças israelenses divulgaram um vídeo que mostra pessoas circundando os caminhões .
Já o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, de extrema direita, cobrou o fim da distribuição de ajudas humanitárias em Gaza. “Hoje ficou provado que isso não é apenas loucura enquanto nossos reféns continuam na Faixa, mas também prejudica os soldados do Exército”, declarou.
O governo dos Estados Unidos, por sua vez, definiu o episódio como “incidente grave” e lamentou a “perda de inocentes vidas humanas” no enclave palestino, enquanto o presidente Joe Biden já disse ser “provável” que os dois lados não cheguem a um acordo para a próxima segunda-feira (04/03).
Mohammed Dahman/Flickr
Ataque desta quinta-feira pode prejudicar as negociações para cessar-fogo
Numa declaração conjunta, as guerrilhas palestinas que apoiam o Hamas denunciaram um “crime hediondo contra civis indefesos”.
Nas últimas semanas, as organizações humanitárias soaram o alarme sobre a situação humanitária em Gaza. As Nações Unidas estimam que 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estão em risco de fome, especialmente no norte, onde a destruição, os combates e os saques tornam a entrega de ajuda humanitária quase impossível.
De acordo com a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), pouco mais de 2.300 caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza em fevereiro, uma queda de cerca de 50% em relação a janeiro, e uma média diária de cerca de 82 caminhões por dia.
Ainda segundo a ONU, cerca de 500 caminhões entravam diariamente na Faixa de Gaza antes do início da guerra, em 07 de outubro, quando as necessidades da população local eram menores.
O massacre contra civis famintos repercutiu, e autoridades da ONU reagiram ao ataque israelense: “a vida está deixando Gaza em uma velocidade assustadora”, disse nesta quinta-feira o chefe dos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths.
“Estou indignado com os relatos de que centenas de pessoas foram mortas e feridas hoje durante uma operação de distribuição de ajuda humanitária a oeste da cidade de Gaza”, escreveu Griffiths na rede social X (antigo Twitter).
(*) Com Ansa.