Após 12 dias sob o cerco total de Israel e em grave crise humanitária, impedida de acessar água, alimentos e eletricidade, Gaza recebeu na manhã deste sábado (21/10) 20 caminhões com suprimentos para a população, por meio da passagem pela fronteira em Rafah, no Egito.
O comboio de ajuda humanitária contém água, alimentos e medicamentos, mas não combustível, que também tem sido restrito aos palestinos de Gaza e implica no não-funcionamento da única central elétrica do enclave.
A decisão para que combustível não fosse permitido partiu do governo de Israel. Nesta manhã, o porta-voz das Forças de Defesa Israelenses (FDI), Daniel Hagari, adiantou que a matéria-prima que pode gerar energia “não entraria em Gaza”.
A agência de ajuda humanitária da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) é receptora deste comboio e tem a responsabilidade de distribuir a ajuda aos civis em Gaza. De acordo com sua diretora de comunicações, Juliette Touma, é “absolutamente crítico” que o combustível chegue à região. .
Segundo sua entrevista ao jornal catari Al Jazeera, o combustível é essencial para as operações da agência e para bombear água para as torneiras da população.
A representante classificou o envio dos primeiros caminhos com ajuda como importante, e “sublinhou que é necessário continuar e não pode ser uma prestação de ajuda “única”.
Segundo a Al Jazeera, o gabinete de comunicação social do governo em Gaza disse esperar que a UNRWA entregue ajuda humanitária em diversas regiões da faixa, que tem mais de dois milhões de habitantes.
“Com o início da entrada através da passagem de Rafah do primeiro comboio limitado de necessidades básicas, estamos à espera que a UNRWA – como parte receptora – realize a sua dever de prestar ajuda aos necessitados em várias áreas da Faixa de Gaza”, ressaltou o jornal.
O representante palestino também lembrou sobre importância do estabelecimento de corredores humanitários que funcionem 24 horas por dia a fim de “satisfazer as necessidades humanitárias e os serviços essenciais que estão completamente desaparecidos” na Faixa de Gaza, incluindo o recebimento de ajuda médica uma vez que o sistema de saúde da região está em colapso.
Twitter/WHO Regional Office for the Eastern Mediterranean
Comboio de ajuda humanitária contém água, alimentos e medicamentos, mas não combustível
Quatro dos 20 caminhões que chegaram esta manhã a Gaza pertencem a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo sua declaração, contêm suprimentos para 1.200 pessoas, 235 sacos de trauma portáteis para estabilização de pacientes em local de acidente, medicamentos para 1.500 pessoas e demais suprimentos de saúde para 300 mil durante três meses.
4 شاحنات تابعة ل @WHO تحمل مساعدات حيوية إلى غزة في طريقها إلى معبر رفح تحتوي على:
▪️إمدادات لعلاج الرضوح لـ 1200 شخص
▪️أكياس قابلة للحمل لعلاج الرضوح لضمان الاستقرار الفوري لـ 235 شخصًا
▪️أدوية الأمراض المزمنة لـ 1500 شخص
▪️إمدادات صحية أساسية لـ 300 ألف شخص لمدة 3 أشهر pic.twitter.com/tZvzi9Tq6y— WHO Regional Office for the Eastern Mediterranean (@WHOEMRO) October 21, 2023
A diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PMA) das Nações Unidas, Cindy McCain, saudou a abertura da passagem em Rafah para os caminhões de ajuda, mas afirmou que seu conteúdo “não é suficiente”.
“Estes vinte caminhões são um primeiro passo importante, mas este comboio não pode ser o último”, declarou a representante por meio das redes sociais.
.@WFP welcomes today’s opening of the #Rafah border crossing between Egypt and #Gaza, which enabled twenty trucks to carry lifesaving food and other humanitarian supplies.
These twenty trucks are an important first step, but this convoy can’t be the last.
— Cindy McCain (@WFPChief) October 21, 2023
A afirmação de McCain decorre do fato de que a Faixa de Gaza tem uma população de aproximadamente 2,3 milhões de pessoas e antes da guerra declarada por Israel, diariamente, mais de 500 caminhões com estes suprimentos entravam na região.
A chegada do primeiro comboio de ajuda humanitária foi permitida por Israel após um acordo entre seu primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, e dos Estados Unidos, Joe Biden.
Após a visita de Biden a Israel na quarta-feira (18/10), o gabinete de Netanyahu declarou que “não impediria a assistência humanitária vinda do Egito“.
O documento ainda adicionava que o envio seria permitido desde que fosse “apenas comida, água e medicamentos para a população civil localizada no sul da Faixa de Gaza”. Israel ainda apontou que esses suprimentos não devem chegar ao grupo palestino Hamas.
Apesar de ceder espaço à ajuda humanitária vinda do Egito, o governo de Tel Aviv insistiu que “não permitirá qualquer assistência humanitária do seu território para a Faixa de Gaza” enquanto os cidadãos civis israelenses sequestrados pelo Hamas “não forem devolvidos”.
A exigência da troca de cativos por suprimentos básicos em Gaza é discutida desde a primeira semana de guerra, tendo a Cruz Vermelha, e possivelmente o governo da Rússia, como mediadores da situação.