O grupo palestino Hamas reiterou nesta quarta-feira (17/01) que rejeita a proposta de dois Estados para resolução do conflito com Israel no Oriente Médio.
Em mensagem divulgada no Telegram, o líder do grupo no exterior, Khaled Meshal, disse que o povo palestino “pede libertação da ocupação e o nascimento de um Estado único”. “As fronteiras de 1967 são praticamente um quinto da Palestina e não podem ser aceitas”, reforçou o dirigente.
Hamas e Israel estão em guerra desde 7 de outubro, quando o grupo iniciou uma incursão militar sem precedentes em territórios ocupados. Desde então, a resposta israelense já fez mais de 24 mil vítimas na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde palestino.
“A maioria esmagadora do povo palestino renovou a esperança de uma Palestina livre do rio ao mar e de norte a sul”, disse Meshal.
Desde o início da guerra em Gaza perpetrada por Israel, o debate da solução de dois Estados retornou para a comunidade internacional, solução esta defendida pelos principais países do Ocidente. A suposta solução consiste em um Estado para os palestinos e outro para os israelenses.
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Fumaça sobe após ataques aéreos israelenses na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 10 de outubro de 2023
A ilusão de dois Estados
Em 1948, a população autóctone palestina foi sistematicamente desapropriada de 78% das suas terras ancestrais. Em 1967, Israel ocupou os restantes 22% da Palestina, incluindo a cidade sagrada de Jerusalém, que Tel Aviv declarou unilateralmente como sua capital.
Israel tem recusado cidadania e os direitos sociais e políticos nestas áreas.
Assinados na Casa Branca em 1994, os Acordos de Paz de Oslo negaram categoricamente a soberania dos palestinos sob a fachada de negociações para um futuro Estado. Sob Oslo, Israel manteria o controle militar sobre a Cisjordânia e Gaza, enquanto uma dispersão de enclaves palestinos, efetivamente bantustões, receberia vários graus de autonomia civil. Após cinco anos, o tratado estipulou outra rodada de negociações para um acordo permanente entre dois Estados.
25 anos depois, Israel impede a construção da Palestina e o acesso à maior parte das terras, ao mesmo tempo que constrói centenas de colonatos ilegais apenas para judeus, continua a desapropriar bairros e cidades palestinas inteiras e desenvolve infraestruturas exclusivamente judaicas (incluindo estradas, parques e extração de recursos naturais). Um relatório de 213 páginas da Human Rights Watch detalha esta realidade e acusa Israel de “crimes contra a humanidade”.
Na sociedade israelense, a lei do Estado-nação, que nega explicitamente a existência nacional e cultural palestina, é a mais recente iteração de dezenas de leis que consagram o estatuto de segunda classe dos palestinos desde a fundação de Israel.
As negociações entre dois Estados negam a milhões de palestinos, uma das maiores populações de refugiados do mundo, o direito internacionalmente reconhecido de regressar às terras e aos lares de onde foram expulsos à força. Embora a lei israelense ofereça aos judeus de qualquer parte do mundo o direito de “regressar”, nega o direito aos palestinos nascidos na Palestina e aos seus descendentes.
Qualquer solução sustentável não pode ignorar as aspirações legítimas de sete milhões de refugiados palestinos. Como disse o membro do Knesset Ofer Cassif : “o direito de retorno não é uma ameaça. É uma solução.”