O enorme silêncio e a barreira de contemporização com o sionismo no mundo acadêmico começa a ser derrubado por importantes iniciativas que buscam expor os crimes cometidos pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza.
Uma dessas iniciativas é um manifesto divulgado nesta quinta-feira (26/10) por um grupo de professores da Universidade Federal do Grande ABC, no qual se denuncia “os crimes de guerra que são praticados pelo governo de extrema direita que comanda Israel, com o apoio do imperialismo estadunidense”.
O texto afirma que “um genocídio está sendo perpetrado na Palestina, neste exato momento, diante dos nossos olhos”.
“Em pleno século 21, um povo sob jugo colonial, expulso das suas terras, segregado, encurralado em bantustões, privado de água, luz, alimento e remédios. O povo palestino está sendo bombardeado em seus bairros e abrigos, hospitais e templos religiosos”, acrescenta o documento.
O manifesto foi assinado por figuras destacadas do mundo acadêmico, ligados especialmente às ciências políticas e sociais, incluindo nomes como Eleonora Menicucci, Gilberto Maringoni, Igor Fuser, Joana Salém, Maria Caramez Carlotto, Paris Yeros, Sergio Amadeu da Silveira e Valter Pomar.
Além de exigir que “os bombardeios parem imediatamente, que se garanta a ajuda humanitária”, os acadêmicos brasileiros solicitam “ao governo brasileiro e às Nações Unidas que contribuiam para construir uma solução para este conflito, solução que garanta a autodeterminação do povo palestino. É inaceitável que em pleno Século 21 continue a existir um regime colonial”.
“Nos solidarizamos com o povo palestino e reafirmamos o que é dito pela Carta das Nações Unidas: povos oprimidos têm o direito de resistir e lutar por sua libertação. Para acabar com a inaceitável violência é preciso acabar com a inaceitável ocupação”, conclui o manifesto.
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Manifestações contra o genocídio do povo palestino vêm se proliferando em todo o mundo
Condenações a genocídio 'são tímidas'
Segundo o historiador Valter Pomar, um dos signatários do manifesto, o ponto de partida” para a iniciativa foi a inspiração vinda de um artigo similar, assinado por professores da USP, como Arlene Clemesha, Marilena Chauí, Paulo Sergio Pinheiro, Vladimir Safatle, e publicado na Folha de S. Paulo.
A partir da redação do manifesto por dois professores da UFABC, assinaturas passaram a ser recolhidas “e a Associação Docente contribuiu, ajudando a divulgar a notícia”, informou Pomar.
O historiador ainda declarou que percebe uma “reação ainda muito tímida”, tanto do meio em acadêmico, como nos demais, em condenar o genocídio de Israel na Palestina.
Segundo sua análise, motivos como “a influência do sionismo, que não se limita ao eleitorado bolsonarista, mas que se exerce de várias formas”, é uma delas.
“Tratar como antissemitismo – portanto, análoga ao nazismo – qualquer crítica se faça ao Estado de Israel” é uma reação que limita a resistência, avalia o historiador.
“A trágica e paradoxal verdade é o oposto disso: considerando que os palestinos também são semitas e considerando que contra eles se está conduzindo um extermínio étnico, a conclusão é que o sionismo é antissemita e o sionismo é análogo ao nazismo”, completa.
Analisando a posição do governo brasileiro perante o conflito, Pomar avalia que a administração “oscilou em vários aspectos, mas foi firme no que diz respeito à defesa do imediato cessar-fogo”.
“Muitas coisas poderiam ter sido diferentes, levando em conta que um povo colonizado tem direito à resistência e que o governo de Israel é 'nazisionista'. Mas o mais importante é que o governo de Israel, se não for detido, seguirá com o genocídio. Então, o governo brasileiro precisa escalar na reação diplomática contra a matança”, defendeu o historiador.