O jornal The Cradle, do sudoeste asiático, publicou nesta terça-feira (24/10) uma investigação dos repórteres Robert Inlakesh e Sharmine Narwani evidenciando “imagens mais claras de quem morreu e quem matou” nos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro.
A publicação aponta que o “massacre total de civis reivindicado por Israel”, publicados com números e nomes pelo jornal hebraico Haaretz, na verdade pode ser observada de um outro espectro: “metade dos israelenses mortos naquele dia eram na verdade combatentes – soldados ou polícias”.
“Os relatos do número de mortos israelenses foram filtrados e moldados para sugerir que ocorreu naquele dia um massacre civil em grande escala, sendo bebês, crianças e mulheres os principais alvos de um ataque terrorista”, acusou a publicação do The Cradle.
Assim, o portal analisa que o Haaretz agora “pinta um quadro totalmente diferente”, em que 48,8% das mortes confirmadas eram de soldados e agendes da polícia de Israel, “muitos deles mulheres”.
O mesmo argumento foi afirmado por Osama Hamdan, um dos principais líderes do Hamas no Líbano, em entrevista ao jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman. Segundo ele, a narrativa dos ataques do Hamas a civis é “propaganda israelense”
“Os ataques foram cometidos contra soldados do exército, a brigada de Gaza. Eles listaram cerca de 600 nomes. Destes, 310 de soldados israelenses e oficiais, 76 de policiais, 32 de guardas dos assentamentos. Portanto, mais de 400 dos alvos eram militares. Depois pararam de declarar os nomes. Alguém pode dizer o porquê? Porque se continuassem a dizer os nomes todo mundo da comunidade internacional descobriria que mais de 80% dos mortos eram militares em serviço. Nós só nos concentramos em soldados e nos colonizadores”, declarou Hamdan ao programa 20 MINUTOS de Opera Mundi, nesta quarta-feira (25/10).
Outra narrativa sustentada na mídia ocidental pró-Israel foi sobre os ataques do Hamas a crianças e bebês. Sobre o assunto, o The Cradle afirma que “até ao momento, também não há registo de mortes de crianças com menos de três anos, o que põe em causa a narrativa israelita de que os bebês eram alvo dos combatentes da resistência palestina”.
Segundo a apuração do site, entre as 683 vítimas civis de Israel, sete tinham entre 4 e 7 anos, e nove tinham entre 10 e 17 anos. O restante das vítimas eram maiores de idade e adultos.
O The Cradle lembra que segundo o porta-voz do Hamas, as Brigadas Al-Qassam, admitiram que 1.500 de seus militares cruzaram a barreira de Gaza e invadiram Israel, mas também combatentes da Jihad Islâmica e civis palestinos não-filiados aos grupos fizeram o mesmo.
Sobre as acusações de violência sexual e estupros por parte do Hamas contra mulheres israelenses, o jornal asiático aponta que antes mesmo de Israel ter acesso a essas acusações porque seus soldados ainda estavam “envolvidos em confrontos armados com elas em múltiplas frentes”, a narrativa “ganhou vida própria”.
Forças de Defesa Israelenses/Twitter
Bandeira e armas supostamente usadas pelo Hamas, segundo Forças de Defesa Israelenses
“O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alegou durante um discurso que as mulheres israelenses foram ‘estupradas, agredidas e exibidas como troféus’ por combatentes do Hamas. É importante notar que um artigo do [portal norte-americano] The Forward de 11 de Outubro relatou que os militares de Israel reconheceram que não tinham provas de tais alegações naquele momento”, escreveu a investigação.
Sobre as demais atrocidades veiculadas, como decapitações, amputações e violações, a publicação lembra que a agência britânica Reuters “salientou que os militares que supervisionaram o processo de identificação não apresentaram qualquer prova forense sob a forma de fotografias ou registos médicos. Até o momento, não há nenhuma evidência credível dessas atrocidades que tenha sido apresentada”, argumentou.
O mesmo argumento não sustenta a pauta sobre a suposta decapitação de 40 bebês. “Nenhuma prova foi alguma vez apresentada para apoiar estas afirmações e a própria Casa Branca confirmou mais tarde que Joe Biden nunca tinha visto tais fotos”, escreveram os jornalistas.
A questão dos reféns
Outra questão que vem à tona na discussão sobre a guerra de Israel contra o Hamas são os mais de 200 reféns civis que o grupo palestino teria sequestrado.
A publicação traz o argumento do Hamas, de que esses sequestrados seriam meios de troca pelos “5.300 prisioneiros palestinos detidos em centros de detenção israelitas, muitos dos quais são mulheres e crianças”.
Osama Hamdan, a Opera Mundi, confirmou que tais pessoas não são reféns, mas “prisioneiros de guerra” por não serem civis, mas soldados israelenses em combate.
“O Hamas tomou soldados do campo de batalha, eles são prisioneiros de guerra. Alguns foram tirados de suas estações, alguns foram tirados de seus tanques, alguns deles foram capturados enquanto lutavam, e estes são prisioneiros de guerra que queremos trocar por civis palestinos que estão em cadeias israelenses”, completou.
Assim, a investigação conclui que “evidências emergentes indicam agora que existe uma grande probabilidade, de que as forças militares israelitas possam ter matado deliberadamente prisioneiros, disparado contra alvos incorretos [no festival de música, também altamente mencionado] ou confundido israelitas com palestinos nos seus tiroteios. Se a única fonte de informação para uma reclamação séria for o exército israelense, então há que ter em conta que eles têm motivos para ocultar casos de fogo amigo”, veiculou o The Cradle.
Portanto, os repórteres investigativos responsáveis pela publicação pedem “uma investigação internacional independente e imparcial, que tenha acesso à informação de todas as partes envolvidas no conflito”, e lembram que caso os israelenses ou norte-americanos não concordem, é porque “Tel Aviv tem muito a esconder”.