O Art. 51 da Carta da ONU se transformou na norma apelada por “vítimas e vitimizadores” da guerra. Com essa cobertura, B. Netanyahu atacou o Consulado do Irã em Damasco e, novamente com ela, o Irã respondeu colocando em xeque o governo sionista de Israel. Ebrahim Raisol-Sadati tem dito “que o regime sionista deve ser castigado e será”.
No dia 1º de abril de 2024, as forças armadas do governo sionista de Israel destruíram as instalações do Consulado do Irã na cidade de Damasco, capital da Síria, deixando um saldo de sete mortos. Um era líder da Força Al Quds que operava na Síria e no Líbano e seis eram altos comandantes da Guarda Revolucionária Islâmica.
Em “legítima defesa” (Art. 51 da Carta da ONU), na noite de 13 de abril, o Irã atacou bases estratégicas do governo de Israel com 30 mísseis cruzados e mais de 200 drones (Shared 136) armados. O que mostrou o contra-ataque? Em primeiro lugar, a vulnerabilidade dos sistemas de defesa de Israel considerados, até então, os mais eficientes do mundo; segundo, avisar a Israel que a impunidade a respeito do genocídio do povo palestino está terminando; e, terceiro, é possível atacar sem cobrar as vítimas inocentes.
Ebrahim Raisi, presidente do Irã disse ao mundo: “o regime sionista deve ser castigado e será”. Na mesma linha, a Guarda Revolucionária Islâmica promete que “responderá com dureza aos Estados Unidos caso preste qualquer tipo de apoio” e cogite em atacar o Irã. Para isso, contam com o apoio do Hezbollah e dos rebeldes Houthis do Iêmen, assim como do Catar e do Kuwait, que expressaram seu repúdio ao genocídio promovido por Israel e pelos Estados Unidos, em Gaza, e não pensaram duas vezes em classificar os Estados Unidos como um “Estado criminoso”.
Ficou claro que as bases militares dos Estados Unidos nos países mencionados e outros próximos não poderão ser utilizadas para atacar o Irã. Além disso, exortou os Estados Unidos para que se abstenham de intervir em favor de Israel e advertiu que haverá represálias para aqueles que abrirem seus espaços aéreos para facilitar ataques contra o Irã.
O Ocidente, como era previsível, reagiu fazendo uso de seu poder midiático para mudar a realidade e bombardear o planeta com mentiras e verdades midiáticas. A mentira mais grotesca é aquela que nega que os mísseis tenham atingido seus objetivos. Vai além, inflando a mentira, disse que 99% dos drones e mísseis foram interceptados por seus “domos de ferro”. Falso, é só olhar para a imprensa independente para descobrir o tamanho da mentira. Já não podem ocultar que as mais importantes Bases Aéreas israelenses no deserto de Neguev e no Aeroporto Internacional Ramón, entre outras, foram alcançadas com mísseis que deixaram severos danos materiais, mas sem vítimas para lamentar.
Por sua vez, o fascista Benjamin Netanyahu está literalmente confinado em seus quartéis com o Conselho de Segurança Nacional para examinar “respostas alternativas ao ataque iraniano” que incluam um “ataque letal” para que o Irã pague “o preço indicado.”
Netanyahu, para muitos analistas internacionais, é um político fracassado e fez das guerras o seu meio de sobrevivência. Nessa lógica se configura o ataque à sede diplomática do Irã em Damasco, com a expectativa de desencadear uma escalada da guerra a nível regional. Na ausência de conflitos de guerra, dizem os especialistas, ele teria de voltar para casa ou desfilar pelos corredores dos tribunais nacionais e internacionais que respondem pelos crimes contra a humanidade cometidos pela sua gestão em Gaza.
O Conselho de Segurança da ONU, de acordo com o mesmo artigo 51, tem o poder de tomar decisões a este respeito, mas sabendo como funciona o órgão, é provável que demore semanas até que tomem qualquer decisão com o risco de os Estados Unidos o declararem “não vinculativo”. Entretanto, o Irã poderia continuar agindo em “legítima defesa” no âmbito da norma acima mencionada. Enquanto António Guterres, com a parcimônia que o caracteriza, diz que “nem a região nem o mundo podem permitir uma guerra”.
Perante um cenário internacional cada vez mais hostil, bem como as exigências derivadas do próximo processo eleitoral, os Estados Unidos optaram por “soluções diplomáticas” para o conflito e não apoiarão ações militares, sem deixar de reiterar um “forte” apoio a Israel . Nesse sentido, estabelecerá mais sanções ao Irã e procurará a desqualificação da Guarda Revolucionária Islâmica, chamando-a de “organização terrorista”. O G7 se soma a esta estratégia sem outro jogo senão seguir os Estados Unidos. Esta decisão, obviamente, não foi do agrado de Netanyahu, pois não é apenas uma indicação de paralisação de qualquer ação de guerra, mas também um elevado risco de que o fornecimento de fundos e armas para a “sua guerra” poderia ser congelado até um novo aviso. A “loucura de Netanyahu” pode acabar em breve.
A Inglaterra, o principal parceiro dos Estados Unidos na Europa, está mostrando que tem os seus próprios objetivos nas guerras em Israel e na Ucrânia. Quer guerra!, com o consentimento dos Estados Unidos. Não é por acaso que a Chevron Corporation (EUA) continua explorando as reservas de gás em Gaza e a British Petroleum (Inglaterra) tem permissão para aderir a esse processo. A França, com o seu “pequeno Napoleão” (Macron), continua exercendo papel de bobo com afirmações de que a realidade vai mostrando a sua natureza demagógica e deslocada.
Por sua parte, a ambiguidade calculada da Rússia e da China em relação ao conflito Irã-Israel revela que na geopolítica nada é coincidência, especialmente quando a hegemonia mundial está em disputa. Perante a escalada das tensões no Oriente Médio, preferem manter o silêncio estratégico sem prejuízo das manifestações de solidariedade com o Irã e de rejeição da atitude de Israel. Instam as partes, num “clima de moderação”, a alcançarem soluções através do diálogo e a evitarem estender o conflito a nível regional. É a diplomacia da geopolítica que os estabelece como potenciais mediadores do conflito.
O motivo da guerra
Gaza tem, a 20 milhas da sua costa, duas reservas de gás (Leviatã e Tamar) consideradas entre as maiores do mundo, suficientes para abastecer o povo palestino durante décadas e exportar os excedentes. Durante 20 anos, os Estados Unidos e os britânicos, de mãos dadas com Israel, não permitiram isso.
As indústrias bélicas norte-americana e europeia beneficiam destas guerras e, no processo, salvam o capitalismo do colapso iminente. Nada melhor do que ter a indústria armamentista a todo vapor como motor de recuperação do sistema capitalista mundial.
As eleições presidenciais em curso nos Estados Unidos (novembro) e na Europa (Parlamento Europeu, junho) estão influenciando fortemente os decisores em relação às guerras. Os cidadãos comuns estão fartos de um estado de guerra permanente e votarão em quem garantir a paz.
(*) Nilo Meza é economista e cientista político peruano.
(*) Tradução Rocio Paik.