Um grupo de 600 jornalistas dos Estados Unidos assinaram nesta quinta-feira (09/11) uma carta denunciando que atuação da imprensa ocidental sobre a ofensiva israelense na Faixa de Gaza reforçou discursos islamofóbicos e racistas contra os palestinos.
“As redações minaram as perspectivas palestinas, árabes e muçulmanas, descartando-as como pouco confiáveis e invocando uma linguagem inflamatória”, instaram tanto repórteres que estão trabalhando na cobertura das ofensivas israelenses contra a Faixa de Gaza quanto profissionais não mais atuantes.
Segundo o documento, as redações publicaram “desinformação espalhada por autoridades israelenses e não examinaram a matança indiscriminada de civis em Gaza – cometida com o apoio do governo dos EUA”.
Os assinantes ainda responsabilizam as redações ocidentais “pela retórica desumanizadora que serviu para justificar a limpeza étnica dos palestinos”.
“Padrões duplos, imprecisões e falácias abundam nas publicações norte-americanas e foram bem documentadas”, caracterizam sobre trabalho da imprensa dos EUA sobre o conflito.
Em defesa da “integridade na cobertura dos meios de comunicação ocidentais sobre as atrocidades cometidas por Israel contra os palestinos”, a carta é assinada porque os jornalistas reconhecem que os bombardeamentos de Israel e o bloqueio dos meios de comunicação social em Gaza “ameaçam a apuração de notícias de uma forma sem precedentes” na região.
“Escrevemos para apelar aos líderes das redações ocidentais para que tenham clareza na cobertura das repetidas atrocidades cometidas por Israel contra os palestinos”, declara o documento.
A exigência dos profissionais norte-americanos decorre, em especial, após o Sindicato dos Jornalistas Palestinos pedir, em um comunicado em 31 de outubro “aos colegas jornalistas de todo o mundo para que tomem medidas para interromper o horrível bombardeamento do nosso povo em Gaza”.
Segundo os jornalistas, a cobertura noticiosa do conflito, iniciado em 7 de outubro com os ataques do Hamas a Israel, que deixaram cerca de 1,4 mil vítimas, “não ofereceu o contexto histórico necessário” para entender o pano de fundo que cerca a guerra.
Assim, explicaram que “Gaza é uma prisão de refugiados da Palestina histórica, que a ocupação de Israel ao território é ilegal diante do direito internacional, e que os palestinos são bombardeados e massacrados regularmente pelo governo israelense”.
Wikicommons
Jornalistas norte-americanos responsabilizam redações ocidentais "por retórica desumanizadora"
Enquanto especialistas da ONU alertam que os palestinos correm grave risco de genocídio, “os meios de comunicação ocidentais continuam hesitantes em citar especialistas em genocídio e descrever com precisão a ameaça existencial que se desenrola em Gaza”, identifica a carta.
Os jornalistas ainda precisam que tal cobertura responsável pode ser feita “utilizando termos precisos e bem definidos pelas organizações internacionais de direitos humanos”, como: “apartheid”, “limpeza étnica” e “genocídio”.
“Distorcer as nossas palavras para esconder provas de crimes de guerra ou da opressão dos palestinos por parte de Israel é negligência jornalística e uma abdicação da clareza moral”, declaram ainda.
Jornalistas mortos em Gaza
O documento também condena os assassinatos de jornalistas cometidos por Israel em Gaza. Após quatro semanas de cerco israelense em Gaza, mais de 10 mil pessoas foram mortas, sendo pelo menos 35 jornalistas em campo.
Diante desse dado, o grupo lembra que o Comitê para a Proteção dos Jornalistas chamou o conflito de “o mais mortal para jornalistas” desde que começou a contabilizar, em 1992.
“Como repórteres, editores, fotógrafos, produtores e outros trabalhadores em redações de todo o mundo, estamos consternados com o massacre dos nossos colegas e das suas famílias pelas forças armadas e pelo governo israelense”, declararam.
A carta ainda denuncia que além da violência dos bombardeios, os repórteres em Gaza sofrem boicotes e ataques deliberados por atuarem na profissão, exemplificando dois ataques no sul do Líbano, em 13 de outubro, que vitimaram o cinegrafista da agência britânica Reuters, Issam Abdallah, e feriram outros seis jornalistas.
Também não deixam de mencionar as mortes de familiares dos repórteres, como no caso de Wael Dahdouh, da Al Jazeera, que perdeu sua esposa e filhos em um ataque aéreo, e o caso do jornalista Mohammad Abu Hassir, da agência palestina Wafa, que morreu e também perdeu outros 42 familiares em ataques.
“Apoiamos os nossos colegas em Gaza e proclamamos os seus esforços corajosos em reportar no meio da carnificina e da destruição. Sem eles, muitos dos horrores no terreno permaneceriam invisíveis”, finalizou a carta pedindo por apoio das redações ocidentais na proteção dos jornalistas de Gaza.
Se você é jornalista e deseja assinar a declaração, está disponível neste link.