Mais de 10 mil crianças perderam a vida em ataques na Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas, em 7 de outubro, relatou a organização Save the Children nesta sexta-feira (12/01).
“De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 10 mil crianças foram mortas por ataques aéreos israelenses e operações terrestres em Gaza em quase 100 dias de violência, com milhares de desaparecidos, presumivelmente enterrados sob os escombros”, diz o comunicado.
Segundo a Save the Children, 1% da população infantil total do enclave palestino “foi morta” e as crianças que sobreviveram à violência “estão a suportar horrores indescritíveis, incluindo ferimentos potencialmente fatais, queimaduras, doenças, cuidados médicos inadequados e a perda dos pais e de outros entes queridos”.
A organização destaca ainda que as crianças em Gaza “foram forçadas a fugir da violência, muitas vezes repetidamente, sem um lugar seguro para ir, e a enfrentar o terror de um futuro incerto”.
Quase um século depois da primeira declaração dos direitos universais das crianças, Gaza sofre com a morte de crianças em números nunca vistos desde a Segunda Guerra Mundial.
Em 1924, a Declaração de Genebra dos Direitos da Criança foi formalmente adotada pela Liga das Nações. Escrita por uma coligação de feministas britânicas de esquerda e promovida pela Save the Children, foi a primeira declaração de direitos civis internacionais a ser formalmente adotada por uma organização e — dessa forma — uma precursora da Declaração dos Direitos Humanos de 1948.
A Declaração defende que as crianças são as primeiras a sofrer as consequências de uma guerra ou em tempos de dificuldades e que devem ser as primeiras a receber ajuda. Segundo o documento, toda criança tem direito a cuidados e ao 'desenvolvimento normal, tanto psíquica como espiritualmente'. A Declaração deveria ser aplicada a todas as crianças “independentemente de raça, nacionalidade ou credo”.
EPA
Um século depois da primeira declaração dos direitos universais das crianças, o mundo assiste a morte de crianças em Gaza
Crianças palestinas como alvos de guerra
As crianças de Gaza, que constituíam quase metade da população do local antes da guerra, foram mortas em uma escala sem igual em outros conflitos recentes. “Gaza está se tornando um cemitério de crianças”, disse o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres.
No auge da guerra civil síria em 2015 e 2016, um conflito considerado especialmente mortal para mulheres e crianças, esses dois grupos representavam 25% dos civis mortos em uma contagem, ou 37% em outra. Quando as mortes de civis no Afeganistão atingiram um recorde histórico no primeiro semestre de 2021, as mulheres e crianças representavam 46% de todas as vítimas civis. Nos dois primeiros anos da Guerra do Iraque, esse número foi de pouco menos de 20%. No Iêmen – geralmente considerado uma das guerras mais horríveis deste século – de 2018 a 2022, mulheres e crianças representaram 33% das mortes de civis, de acordo com dados compilados pelo Civilian Impact Monitoring Project sobre as consequências da violência armada.
Depois de apenas três semanas de ataques, as forças israelenses mataram mais crianças em Gaza do que o número de crianças mortas em todos os conflitos do mundo durante um ano inteiro, superando esse total em todos os anos desde 2019. Na verdade, com o número de mortes de crianças de Gaza agora em torno de 10.000, as forças israelenses mataram quase o mesmo número de crianças que em todas as guerras do mundo durante esses três anos juntos.
O jornal catari Al Jazeera, denunciou que em apenas dois meses, a IDF matou quase o dobro do número de crianças que foram mortas durante os 11 anos da Guerra do Afeganistão e quase o dobro do número oficial de crianças mortas durante 7 anos e meio da guerra do Iêmen. Mesmo se considerarmos a taxa mais alta de crianças mortas na guerra civil de 12 anos da Síria (30.127), sua média de 7 mortes de crianças por dia ainda é muito superior à taxa de 160 por dia alcançada por Israel – uma taxa que, se permanecer consistente, ultrapassaria o número de mortes de crianças da guerra da Síria em menos de um ano.
A campanha militar israelense também superou os números de vítimas fatais da guerra russo-ucraniana. Foram necessários 21 meses para que o número de mortes de civis ultrapassasse 10.000 na guerra RússiaxUcrânia, incluindo mais de 560 crianças mortas. Em contrapartida, Israel levou apenas 45 dias para ultrapassar a marca de 10.000 mulheres e crianças mortas, e já havia matado pelo menos 583 crianças palestinas em apenas seis dias.
(*) Com Ansa
(*) Com informações da Jacobin Magazine – EUA