Representante da comunidade palestina no Brasil e do Comitê da Palestina Democrática, o refugiado Jadallah Saffa fez a primeira fala do Ato em Solidariedade ao Povo Palestino, na noite da quarta-feira (11/10), no galpão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em São Paulo.
Emocionado, clamou contra a guerra e as animosidades entre palestinos e israelenses: “não estamos contra um outro, queremos a paz na nossa terra”, falando também do sonho de retornar a sua terra natal. Encerrou seu discurso e, poucos minutos depois, passou mal ao lado do palco e foi levado ao pronto-socorro.
O incidente abalou os participantes do ato, até então marcado por uma algazarra de cores, bandeiras, palavras de ordem, gritos por “Palestina Livre” e manifestações de movimentos sociais diversos. Lado a lado, em solidariedade à causa palestina (que é “uma causa da humanidade”, nas palavras de Jamil Murad, militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e ex-deputado estadual e federal), agitavam-se slogans e bandeiras da Palestina, do Brasil e Líbano, do MST, de entidades como Frente Brasil Popular, Central de Movimentos Populares (CMP), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Movimento Negro Unificado (MNU), Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Marcha Mundial das Mulheres, Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), União da Juventude Socialista (UJS), União da Juventude Comunista (UJC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), PCdoB, Partido Socialismo e Liberdade (Psol) e assim por diante.
Unificados, movimentos sociais, organizações pelos direitos humanos, sindicatos e partidos de esquerda anunciaram um calendário de manifestações para as próximas semanas, que culminará na realização do Festival Palestina Livre, entre 25 a 29 de novembro, durante a Semana de Solidariedade ao Povo Palestino.
Apresentaram no ato, por fim, uma carta conjunta conclamando ao fim imediato do apartheid promovido por Israel contra os palestinos e da ocupação de seu território pelo Estado israelense – que, segundo as palavras indignadas de Jadallah Saffa, foi implantado na região por ação de países ocidentais como Estados Unidos, Inglaterra e França.
Uma porta-voz do MST apresentou o galpão que abrigava o ato como “território livre de apartheid”, a exemplo dos acampamentos e assentamentos do movimento. Um grupo de manifestantes em roupas palestinas leu um texto de protesto contra os 75 anos ininterruptos de desapropriação e limpeza étnica, bombardeios e bloqueios, discriminação racial e preconceito étnico, humilhação e submissão do povo palestino, desde a instalação do Estado de Israel, em 1948.
Pedro Alexandre Sanches
Ato em Solidariedade ao Povo Palestino, no galpão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em SP
Falando em nome do Movimento Negro Unificado, Simone Nascimento convidou os manifestantes presentes a compor o bloco Palestina Livre na 20ª Marcha da Consciência Negra, que acontece no próximo dia 20 de novembro. “Nossa luta é uma luta só”, afirmou, fazendo um paralelo entre o genocídio dos palestinos e o genocídio da população negra no Brasil e afirmando a solidariedade do MNU aos povos que vivem o racismo em todas as partes do mundo. “Jovens palestinos, contem com os jovens afro-brasileiros e com a solidariedade do movimento negro”, concluiu
“Não são a extrema direita, o fascismo e os meios de comunicação que têm lado que vão nos impedir de gritarmos bem alto ‘viva o povo palestino’. Querem acabar com os conflitos? Criem o Estado palestino”, discursou Raimundo Bonfim, coordenador geral da Central de Movimentos Populares. O deputado estadual Guilherme Cortez, do Psol, ressaltou a assimetria entre o poderio israelense e paulista, criticando as compras de armamento importado de Israel pelo governo estadual de São Paulo.
Integrante da coordenação nacional do MST, Gilmar Mauro reafirmou a solidariedade e o internacionalismo como princípios fundadores da organização e lamentou o cancelamento, em razão dos últimos acontecimentos, do envio de mais uma brigada solidária do movimento para ajudar na colheita de azeitonas na Palestina. “Esse gesto simbólico é fundamental não só para o povo palestino, mas para que nossa organização forme militantes internacionalistas e solidários”, afirmou.
“É preciso enfrentar a ordem do capital em todos os cantos deste planeta, é preciso enfrentar o imperialismo, é preciso acabar com as guerras e é preciso que a classe trabalhadora no mundo inteiro se levante em defesa da Palestina e de um mundo livre e fraterno”, disse.
Em sua fala antes de passar mal, Jadallah Saffa criticou as omissões da mídia comercial em relação às violências praticadas pelo Estado israelense na Faixa de Gaza: “Israel não aguenta mil mortos, mas o povo palestino já aguentou 2 mil, 3 mil, 5 mil, 10 mil mortos. Há 16 anos, os palestinos em Gaza não podem se deslocar sem permissão de Israel”. E finalizou: “tenho orgulho de estar lutando pelo direito de retornar para minha terra e construir meu Estado igual a qualquer outro no mundo”.