Um batalhão das Forças de Defesa de Israel (FDI) pode ser alvo, pela primeira vez na história, de sanções dos Estados Unidos. Segundo noticiado pela imprensa internacional, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, deve anunciar a medida nos próximos dias.
A unidade Netzah Yehuda (Judeia para Sempre, em tradução livre) é suspeita de violar direitos humanos de civis palestinos na Cisjordânia.
Segundo informações da agência de notícias AP, outros quatro batalhões estão sob investigação dos norte-americanos pelo mesmo motivo.
Com as sanções, o Netzah Yehuda, também conhecido como Nahal Haredi, ficaria proibido de receber ajuda militar dos EUA e teria acesso reduzido à formação militar bancada pelos norte-americanos.
O governo israelense anunciou que tomará providências contra as sanções, se elas de fato vierem.
Quem são os soldados do Netzah Yehuda
O batalhão foi criado em 1999 como unidade militar especial para judeus ultraortodoxos, os Haredim. Diferentemente de outros grupos em Israel, eles são isentos do serviço militar obrigatório por razões religiosas – uma medida considerada discriminatória pelo Supremo Tribunal de Israel, e contra a qual a sociedade israelense cada vez mais tem se insurgido. Mas o Knesset, Parlamento israelense, tem ignorado o assunto até agora.
Desde o início da guerra entre Israel e o grupo islamista palestino Hamas, em 7 de outubro do ano passado, milhares de Haredim se alistaram voluntariamente para o combate.
No Netzah Yehuda, os soldados têm tempo para orações e estudos religiosos, recebem comida kosher – isto é, comida preparada segundo as leis judaicas de alimentação – e têm menor contato com soldadas mulheres.
A unidade faz parte da brigada de infantaria Kfir, que tem cerca de mil homens. O batalhão, porém, não é amplamente aceito entre os ultraortodoxos, que rejeitam a obrigatoriedade do serviço militar.
Elos com a ultradireita
O Netzah Yehuda abriga em suas fileiras tanto israelenses ultraortodoxos quanto religiosos nacionalistas – alguns deles são colonos radicais que vivem na Cisjordânia ocupada, ligados aos partidos de dois líderes da ultradireita com altos cargos no governo de Benjamin Netanyahu: os ministros Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional).
![](https://controle.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2024/04/68880846_303.jpg)
Soldados ultraortodoxos prestam juramento para se juntar ao Netzah Yehuda: batalhão especial é suspeito de violações de direitos humanos
Ainda segundo o portal de notícias americano Axios, o batalhão também tem recebido cada vez mais apoiadores da Hilltop Youth (Juventude do Topo da Colina, em tradução livre), espécie de ala jovem dos colonos de tendência radical e violenta, e que foi sancionada na semana passada pela União Europeia por causa de ataques a palestinos.
Originalmente, o Netzah Yehuda estava estacionado na Cisjordânia, mas foi transferido para o norte de Israel no final de 2022 e tem atuado também dentro da Faixa de Gaza desde o início da guerra.
As acusações contra o Netzah Yehuda
Segundo o jornal israelense Times of Israel, o batalhão é suspeito de extremismo e de praticar atos de violência contra palestinos. O próprio governo norte-americano já estaria monitorando a unidade desde 2022 pelo mesmo motivo, conforme o portal de notícias Axios.
Uma das denúncias contra o grupo publicada pela imprensa é o caso de um idoso de 78 anos que teria morrido em decorrência de um infarto sofrido após o grupo tê-lo amordaçado e algemado por horas. As FDI se referiram ao caso na época como “falha moral”, atribuindo-o a uma decisão ruim dos soldados, e reagiram destituindo dois oficiais de seus cargos e advertindo um terceiro. Ninguém, porém, foi responsabilizado criminalmente pelo episódio.
O caso recebeu especial destaque na imprensa porque, além de idosa, a vítima tinha dupla cidadania e a diplomacia americana pressionou por uma investigação.
Ativistas dos direitos humanos, porém, citam outros casos de maus-tratos e tortura contra palestinos.
Como Israel reagiu
O governo israelense reagiu com indignação às notícias de um possível sancionamento de um dos batalhões das FDI. “Eu defenderei firmemente as FDI, nosso Exército e nossos combatentes. Se alguém pensa que pode impor sanções a uma unidade das FDI – eu vou lutar contra isso com todos os meus poderes”, afirmou na noite de domingo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu via X (antigo Twitter). “Em uma época em que nossos soldados combatem o monstro do terror, a pretensão de sancionar uma unidade das FDI é o cúmulo do absurdo e um ponto moral baixo.”
As FDI, por sua vez, disseram desconhecer quaisquer sanções contra suas unidades. “Se uma decisão nesse sentido for tomada, iremos analisá-la.”
Na segunda-feira (22/04), veículos israelenses noticiaram uma visita do ministro da Defesa Yoav Gallant às tropas do Netzah Yehuda. “Ninguém no mundo pode nos ensinar sobre moral e valores”, disse Gallant aos soldados. “O aparato de segurança apoia vocês.”
As sanções contra militares seriam uma medida excepcional e inédita. Os Estados Unidos já impuseram, porém, sanções a outros grupos no país: colonos extremistas, duas organizações que os financiam e um aliado do ministro Ben-Gvir, Ben-Zion Gopstein. As sanções levaram ao congelamento de bens alocados nos Estados Unidos, e impedem empresas e pessoas no país de fazerem negócios com os sancionados.