O isolamento de Gaza e a perda de comunicação são frequentes desde o início da escalada das hostilidades na Palestina. Os constantes cortes de energia e restrição de combustível, são o resultado de políticas estabelecidas por Israel desde os Acordos de Oslo.
Os Acordos de Oslo restringiram a possibilidade de desenvolver a rede de comunicações palestina e restringiram a importação de equipamentos para Gaza, exigindo a aprovação de Israel ao examiná-los e confirmar seu destino.
Desde a libertação da Faixa de Gaza em 2005, Israel não permitiu a entrada de equipamentos técnicos, exceto após uma negociação que levou muitos meses.
O regime de Netanyahu monitora cada centímetro de cabos e equipamentos técnicos que entram em Gaza por meio de funcionários da ONU, e até o momento não há serviço de assistência elétrica na Faixa de Gaza.
Nas guerras de 2008 e 2014 as aeronaves das forças armadas israelenses bombardearam centros de comunicação e distribuição de internet nas áreas de fronteira. Também desativaram a infraestrutura antes da invasão terrestre da Faixa de Gaza.
Na batalha de Saif Al-Quds de 2021 Israel teve como alvo as redes de comunicação, seus principais cabos e torres de transmissão. O setor de comunicações e internet sofreu grandes perdas como resultado da destruição de ruas, postes e fios.
Desde a operação militar do Hamas, chamada Tempestade de Al Aqsa, Israel tem como alvo a infraestrutura de comunicações e internet, cortando repetida e completamente todo o acesso à Faixa. Grandes áreas ainda estão sofrendo com o isolamento completo de forma contínua. Recursos básicos estão sendo utilizados como arma de guerra, deixando 2,3 milhões de residentes na escuridão e no esquecimento. O corte de combustível e energia elétrica, impede e prejudica enormemente trabalhadores da saúde de socorrer feridos, a alternativa que a equipe médica encontrou, foi de aguardar com ouvidos atentos às direções do bombardeio e ir até o local.
Com o bloqueio de comunicação, civis, ativistas, jornalistas e organizações ficam impedidos de denunciar as violações humanitárias de Israel, aprofundando a crise atual. Depois de 41 dias em que o cerco à Gaza e o combustível se esgotou completamente em seus hospitais, um único caminhão de combustível entrou hoje, somente depois que a ocupação exigiu que o Egito entregasse o caminhão à UNRWA. Enquanto isso, a Paltel, empresa de telecomunicações, anunciou o corte de combustível e dos recursos de energia de reserva para operar a rede principal.
Ashraf Amra / Apaimages
Constantes cortes de energia e restrição de combustível, são o resultado de políticas estabelecidas por Israel desde os Acordos de Oslo
Organizações como a Anistia Internacional já alertaram ao mundo que a perda de contato com os membros em Gaza estava tornando cada vez mais difícil reunir evidências dos crimes de guerra cometidos por Israel.
Até agora, há mais de 11.000 palestinos mortos – dois terços deste número incluem mulheres e crianças – desde que os ataques de Israel em Gaza começaram no dia 7 de outubro. E diante do horrores e violações constantes, a análise de muitos intelectuais progressistas, é de que a lei é a condição sine qua non, o princípio e o fim de tudo. As críticas progressistas ao tratamento dado por Israel aos palestinos, por exemplo, geralmente se resumem à mera preocupação de que Israel cumpra suficientemente os princípios fundamentais do direito internacional. Para alcançar a paz, de acordo com essa narrativa de “democracia falha”, tudo o que Israel deve fazer é respeitar melhor o direito internacional.
A realidade concreta ilustra a insensatez dessa posição. O direito internacional, no cômputo geral, fez mais para consolidar o colonialismo de Israel do que para impedi-lo. No entanto, o esforço jurídico aliado à mobilização política, de indivíduos, organizações e estados, é o que determina a direção de justiça à Palestina. Para fazer uso do potencial emancipatório da lei , ela deve ser exercida à serviço de um movimento político anticolonial. Embora uma estratégia jurídica de condenações em tribunais possa atrair juristas progressistas que fetichiza a lei como uma solução dos oprimidos, falta a capacidade necessária para desafiar a estrutura de poder que colocou os palestinianos às margens da lei. Só um projeto político radical pode fazer isso.
Portanto, neste momento, garantir que Israel cumpra integralmente o direito internacional não garante justiça para os palestinos. O direito internacional não foi concebido para tal tarefa. Tal como aconteceu nas lutas de libertação noutros lugares e épocas, conquistar a liberdade na Palestina requer um movimento político de massas em que a lei funcione como uma ferramenta e não como um substituto da política. Somente dentro de tal movimento o direito internacional pode ser utilizado a serviço da justiça.