Para o próprio secretário de assuntos humanitários das Nações Unidas, o termo “operação humanitária” deve ser descartado no sul da Faixa de Gaza. “Não pode se chamar por esse nome. O ritmo do ataque militar no sul é uma repetição do ataque no norte”, declarou Martin Griffiths, nesta quinta-feira (07/12).
Durante uma conferência de imprensa em Genebra, o representante explicou que a intensidade dos ataques militares israelenses perto da passagem de Rafah, que faz fronteira com o Egito, tem impossibilitado o fornecimento básico para dar auxílio aos palestinos.
“O que temos neste momento em Gaza é, na melhor das hipóteses, um oportunismo humanitário que tenta alcançar, por meio de algumas estradas ainda acessíveis, ainda não destruídas, algumas pessoas em um local onde se tenha a mínima condição de fornecer um pouco de comida, ou água, ou algum outro suprimento básico”, afirmou o secretário, classificando o trabalho humanitário como “errático” e “insustentável”.
No entanto, Griffiths informou que, na medida do possível, as operações continuarão. Mencionou um progresso nas negociações para abrir “em breve” a passagem na fronteira de Kerem Shalom, permitindo portanto a entrega de mais ajuda humanitária.
“O que não temos é qualquer noção clara de planejamento, qualquer noção do que pode acontecer no dia de amanhã e, para ser mais específico, nenhum de nós consegue prever quando tudo isto vai terminar”, disse o representante.
As primeiras horas do dia foram emendadas com os incessantes ataques de Israel que continuam em todo o território da Faixa de Gaza, a toda a hora. As forças de ocupação comandadas pelas autoridades de Tel Aviv expandiram as suas operações militares terrestres, juntamente com as ofensivas aéreas que atingiram todas as áreas da região.
Twitter/Martin Griffiths
Palestinos fogem da operação terrestre israelense e se concentram na passagem de Rafah, na Faixa de Gaza
O norte do território palestino foi alvo do exército israelense, onde vários edifícios residenciais foram destruídos e dezenas de civis foram mortos e feridos. Enquanto isso, o sul de Gaza, foco da nova fase da operação militar do Estado judeu, continuou sendo bombardeado, principalmente na cidade de Khan Younis, local onde Israel publicamente declarou concentrar seus ataques sob a justificativa de que é a “principal área para as operações do Hamas”.
Em rede social, Griffiths destacou que a comunidade humanitária internacional tem uma “única e clara mensagem”: “o cessar-fogo tem que começar imediatamente”.
The international humanitarian community has a single, clear message:
This has to stop immediately.
That ceasefire we’ve all been talking about has to start immediately.
I talked to NPR’s @HereAndNow about the latest in #Gaza.https://t.co/c5KkVZYN28
— Martin Griffiths (@UNReliefChief) December 7, 2023
Mais mortos do que feridos: ‘necrotério lotado’
115 palestinos mortos pelo reflexo da intensificação dos ataques israelenses chegaram, na quarta-feira (06/12), ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro de Gaza.
Pela primeira vez desde 7 de outubro, esse número ultrapassou o de pessoas feridas que chegaram ao hospital, durante o período de 24 horas, de acordo com o Médico Sem Fronteiras que apoia a unidade de saúde.
“O hospital está lotado, o necrotério está lotado”, alertou a entidade, em comunicado, acrescentando um apelo ao exército israelense para que “pare com o bombardeio indiscriminado na Faixa de Gaza, proteja os civis e a infraestrutura civil.”
O Hospital dos Mártires é um dos 14 que ainda operam com alguma capacidade em Gaza, segundo a ONU, embora todos careçam de combustíveis e recursos médicos.