Após o início das hostilidades em Gaza no fatídico dia 7 de outubro e o bombardeamento intenso da região parte das forças militares de Israel, a agência ONU Mulheres, ligada à Organização das Nações Unidas, tem trabalhado junto com outras entidades humanitárias para analisar o impacto do conflito sobre mulheres e meninas palestinas. No mês passado, Israel prendeu mais de 2.000 palestinos, submetendo-os a tratamentos degradantes que equivalem a tortura. Os prisioneiros descrevem a situação nas prisões como semelhante à situação sombria de 1967, no início da ocupação militar de Israel.
Em um informe apresentado em novembro, e atualizado semanalmente, a agência apresentou dados recolhidos por coletivos feministas e de direitos humanos sobre como as mulheres e meninas residentes em Gaza têm sofrido não só com as bombas mas também com os problemas econômicos gerados pela ofensiva militar israelense.
A última atualização do informe, no dia 5 de dezembro, mostra que entre os cerca de 16 mil civis mortos até o momento, um total de 11.997 eram mulheres e crianças.
Outros dados preocupantes são as 951.490 mulheres e meninas obrigadas a deixar suas casas, e as 2.784 mulheres que se tornaram viúvas e chefes de família, após a morte de seus maridos ou companheiros.
Abusos nas prisões de Israel
Outro dado preocupante a respeito da situação das mulheres palestinas em Israel tem a ver com a situação daquelas que se encontram presas. Há vários relatos de estupro, violência sexual, abuso físico e tortura contra prisioneiras, não só entre as que eram residentes em Gaza como também entre as que viviam na Cisjordânia.
Parte desse cenário foi mais claramente exposto após a libertação de dezenas de prisioneiras a partir do acordo de trégua entre Israel e Hama, estabelecidos há uma semana graças à mediação dos governos de Egito e do Catar.
“Há 30 mulheres (palestinas) presas atualmente (em Israel). Elas são torturadas todos os dias, e sofrem por ter deixado seus filhos abandonados”, afirma a ativista Ahed Tamimi, que também chegou a ser prisioneira de Israel.
AP news
Mulher palestina sendo detida por Forças de Defesa Israelense, 2023
Uma palestina libertada de uma detenção israelense disse que mais de 15 mulheres palestinas foram estupradas por interrogadores israelenses para forçá-las a confessar as acusações feitas contra elas e colaborar com a inteligência israelense.
“Os investigadores e oficiais de inteligência israelenses mantêm fitas de vídeo dos estupros para chantagear as detentas. Fui abusada sexualmente e fotografada. Quando tentei viajar para a Jordânia após minha libertação, (um) oficial da inteligência israelense me surpreendeu com as fotos humilhantes”.
Ela afirmou que essas técnicas têm sido usadas há anos pelos interrogadores israelenses contra os detidos palestinos.
“Eles usaram essas técnicas de estupro antes da minha detenção e continuam a usá-las até hoje”, disse a palestina que passou nove anos de sua vida em detenção israelense.
Por sua vez, a jurista britânica Teresa Thornhill, membro do grupo Advogados pelos Direitos Humanos da Palestina, diz que “as mulheres detidas são rotineiramente submetidas a privação de sono, confinamento em celas semelhantes a armários, tapas, chutes, privação de higiene e ameaças sexuais”.
Em 2023 a ONU, numa comissão formada por mais de 50 países, condenou Israel por violar direitos das mulheres palestinas através de várias práticas, incluindo a violência sexual. Mesmo assim, representantes do Reino Unido e Estados Unidos criticaram o informe, alegando que as acusações tinham viés ideológico.