Os Estados Unidos, maior aliado e fornecedor de armas de Israel, vetaram nesta terça-feira (20/02) a resolução de cessar-fogo humanitário em Gaza proposta pela Argélia no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), totalizando assim três documentos negados pelo poder de veto norte-americano, enquanto o conflito já vitimou mais de 29 mil palestinos.
O resultado total da votação dos países-membros do CSNU foi de treze votos a favor do texto, além da abstenção do Reino Unido e do veto dos Estados Unidos. Caso a delegação norte-americana no organismo não votasse de forma contrária, a resolução poderia obrigar o Estado de Israel a interromper sua ofensiva militar em Gaza com a força de um documento aprovado pela instância mais poderosa da Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento do país africano defendia “o acesso humanitário completo, rápido, seguro e sem impedimentos em toda a Faixa de Gaza”.
Também estava “alinhada com as prioridades do grupo árabe e da comunidade internacional em geral – ou seja, um cessar-fogo, o acesso humanitário e oposição ao deslocamento forçado”.
No entanto, a missão dos Estados Unidos na ONU justificou seu veto afirmando que não achava a resolução proposta “um mecanismo eficaz”, por não ser passível de alcançar “uma paz sustentável”.
Segundo a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, um cessar-fogo imediato, como pedia a resolução, “poderia frustrar as negociações entre Israel e o Hamas”.
Por fim, a representante ainda disse que os Estados Unidos ainda aguarda “com expectativa a elaboração de um texto que aborde muitas das preocupações gerais. Um texto que pode e deve ser adotado pelo conselho”.
Argélia apelou por cessar-fogo
Antes da votação, a delegação argelina reconheceu os esforços do Egito em tentar “facilitar o tão necessário acesso humanitário à Gaza” e apelou ao CSNU pela aprovação do texto, que acusou estar inerte e não se esforçar para “interromper a carnificina em curso em Gaza”.
— Algeria to the UN (@AlgeriaUN) February 20, 2024
“Lamentavelmente, o Conselho de Segurança das Nações Unidas permanece inerte, incapaz de denunciar as atrocidades diárias perpetradas pelas autoridades de ocupação”, declarou em uma nota divulgada por meio das redes sociais nesta segunda-feira (19/02).
Para o país, o órgão deveria “tomar medidas imediatas e não fazer ouvidos moucos aos apelos da comunidade internacional e da opinião pública mundial, que exigem um cessar-fogo”.
Terceiro veto
Essa não é a primeira vez que os Estados Unidos exercem seu poder de veto, impedindo a aprovação de um cessar-fogo humanitário em Gaza.
A primeira resolução vetada pelos diplomatas norte-americanos foi redigida pelo Brasil, em 18 de outubro passado, apenas sete dias após o início do conflito.
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Para ser aprovada, resolução não poder ser vetada por nenhum dos países fundadores: EUA, França, Reino Unido, Rússia ou China
O projeto brasileiro recebeu 12 votos a favor. O Reino Unido e a Rússia se abstiveram e o único voto contra foi dos Estados Unidos.
O texto apresentado pelo Brasil solicitava a abertura de corredores humanitários em Gaza, condenando os ataques do Hamas, e pedindo pausas na guerra para atendimento aos civis e a retomada de serviços essenciais.
O segundo veto foi exercido contra a resolução dos Emirados Árabes Unidos, único país árabe atualmente no órgão, em 8 de dezembro.
O texto pedia por um cessar-fogo imediato sobre os ataques de Israel aos palestinos na Faixa de Gaza. Mas a autoridade norte-americana considerou o documento “desequilibrado” e “desconexo da realidade”.
Novamente, 13 membros votaram a favor e o Reino Unido se absteve. A resolução não avançou pelo único voto dos Estados Unidos.
Proposta norte-americana
Somando três vetos nas propostas enviadas ao Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos enviaram um texto próprio ao órgão na última segunda-feira (19/02).
O projeto norte-americano “destaca seu apoio a um cessar-fogo temporário em Gaza o mais rápido possível, com base na fórmula de libertação de todos os reféns, e pede a remoção de todas as barreiras à prestação de assistência humanitária em larga escala”.
O termo 'cessar-fogo' vinha sendo evitado e repudiado pelos diplomatas norte-americanos, mas aderido após ser utilizado pelo presidente Joe Biden na última semana em uma conversa com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
O texto proposto por Washington também rejeita a mais recente fase da ofensiva israelense em Gaza, os ataques à cidade de Rafah, na fronteira com o Egito – local onde a maioria dos palestinos refugiados pelos bombardeios no norte e sul da faixa se deslocaram.
Israel planeja invadir Rafah, onde mais de um milhão dos 2,3 milhões de palestinos em Gaza buscaram abrigo, provocando preocupação internacional de que um ataque agravaria a crise humanitária em Gaza. A ONU alertou que a situação “poderia levar a um massacre”.
A proposta “determina que, nas circunstâncias atuais, uma grande ofensiva terrestre em Rafah resultaria em mais danos aos civis e seu deslocamento adicional, incluindo potencialmente para países vizinhos”.
Para ser aprovada, a resolução precisa de pelo menos nove votos a favor e nenhum veto dos Estados Unidos França, Reino Unido, Rússia ou China.
(*) Com Spuntiknews