A porta-voz da Agência das Nações Unidas para Refugiados da Palestina (UNRWA) afirmou à emissora catari Al Jazeera, neste sábado (23/03), que a decisão dos Estados Unidos de suspender o financiamento ao órgão humanitário implica ainda mais na desestabilização da Faixa de Gaza.
A preocupação de Tamara Alrifai foi manifestada após a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos ter aprovado, nesta madrugada, um projeto de lei de financiamento no valor de US$ 1,2 trilhão que proíbe o repasse à agência, até março de 2025, em meio ao catástrofe humanitário presente no enclave palestino, segundo o veículo.
A decisão foi celebrada pelo ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, por meio de rede social, referindo-se à UNRWA como “parte do problema sem ser parte da solução”. A autoridade ainda incentivou “mais países a seguirem os Estados Unidos e proibirem o financiamento à organização”.
The historic ban on U.S. funding to @UNRWA that passed today with an overwhelming bipartisan support, demonstrates what we knew all along: UNRWA is part of the problem and can not be part of the solution. UNRWA will not be a part of Gaza’s landscape in the aftermath of Hamas.…
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) March 23, 2024
Vale lembrar que a situação da UNRWA foi agravada após Israel propriamente ter alegado possível envolvimento de funcionários do organismo na primeira ofensiva do Hamas, em 7 de outubro de 2023, o que motivou diversos países doadores a suspenderem o envio de auxílio destinado aos palestinos.
“Se os Estados Unidos, nosso maior doador, não enviarem financiamento à UNRWA, criará uma enorme lacuna em nosso orçamento”, disse a porta-voz.
A UNRWA é a principal fornecedora de recursos básicos e necessidades em Gaza, destinando alimentos, serviços de saúde e educação para dois milhões de refugiados palestinos situados no território em meio às operações militares de Israel.
“Não é momento de desestabilizar ainda mais a região”, acrescentou Alrifai.
Acusação israelense contra funcionários da UNRWA
Na última semana de janeiro, Israel alegou que alguns funcionários da agência da ONU participaram da primeira ofensiva lançada pelo Hamas, em 7 de outubro de 2023.
A reação da UNRWA diante da acusação israelense, junto com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi imediata. As autoridades da ONU se mobilizaram e abriram investigações dentro da agência destinada a refugiados. Na ocasião, dos 12 funcionários acusados, nove acabaram sendo demitidos.
No entanto, a denúncia israelense mobilizou diversos países ocidentais, incluindo os principais doadores, como os Estados Unidos, que decidiram bloquear repasses à UNRWA, gerando uma preocupação ainda maior por parte da agência, que já vinha relatando escassez de recursos e apelando por mais auxílio internacional.
Apoio à UNRWA
Apesar dos bloqueios, outros países reiteraram apoio ao órgão humanitário, incluindo o Brasil. Mais recentemente, nesta semana, a Arábia Saudita anunciou uma doação no valor de US$ 40 milhões (equivalente a cerca de 200 milhões de reais na cotação atual) à agência.
Conforme um comunicado divulgado pelo Centro de Ajuda e Assistência Humanitária Rei Salman, uma organização humanitária local, os repasses serão destinados a apoiar os “esforços de ajuda humanitária” do órgão em Gaza, fornecendo “alimentos a mais de 250 mil pessoas e tendas a outras 20 mil famílias”.
“É crucial suprir as necessidades desesperadas da população de Gaza, que está ameaçada pela fome, de acordo com a ONU”, afirmou o diretor do centro saudita, Abdallah al-Rabeeah.