Em meio a uma grave crise humanitária com 85% da população na Faixa de Gaza deslocada, pelo menos dez países ocidentais já anunciaram a suspensão de financiamento à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), incluindo os maiores doadores, como os Estados Unidos.
Diante das decisões tomadas por essas nações, o Ministério dos Negócios Estrangeiros palestino afirmou, neste domingo (28/01), que tais posições escancaram um “duplo padrão” e parcialidade em relação à situação do povo palestino.
“Suspender o financiamento da UNRWA e o apoio contínuo a Israel no genocídio do nosso povo se equiparam a punições coletivas e padrões duplos miseráveis”, afirmou a autoridade, em comunicado.
O termo “punição coletiva” usado pelo governo palestino foi também mencionado, horas antes, pelo próprio comissário-geral do Acnur em Gaza, Phelippe Lazzarini.
L’@UNRWA est choqué par les allégations envers 12 de ses employés à #Gaza.
Conformément à notre politique de tolérance zéro envers toute incitation à la haine et à la violence, et au vu de la gravité des allégations formulées à leur encontre, j’ai pris la décision de congédier…
— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) January 28, 2024
Ao menos dez países decidiram cortar os recursos destinados à organização internacional que tem o objetivo de auxiliar os palestinos vítimas das operações militares israelenses, como os Estados Unidos, Austrália, Canadá, Itália, Alemanha, Finlândia, Holanda, Suíça, Reino Unido e Escócia.
Ao se dizer “chocado” com o bloqueio de recursos, Lazzarini definiu a postura do Ocidente como uma “punição coletiva”, enquanto o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também endossou a declaração do representante, neste domingo, pedindo aos Estados doadores que continuem apoiando a agência da ONU que administra as operações de ajuda em Gaza: “as necessidades extremas da população em desespero devem ser atendidas”.
Twitter/UNRWA
‘Punição coletiva’: chefes da ONU e governo palestino repudiam suspensão de doação a agência humanitária
“Embora compreenda as preocupações, fiquei horrorizado com estas acusações. Apelo veementemente aos governos que suspenderam as suas contribuições para, pelo menos, garantirem a continuidade das operações da agência”, disse Guterres, em comunicado.
O secretário-geral também reforçou que os funcionários envolvidos nos ataques de 7 de outubro, como alegou Israel, serão responsabilizados. No entanto, defendeu que “as dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham para a agência, muitos em algumas das situações mais perigosas, não devem ser penalizados”.
De acordo com Guterres, das 12 pessoas acusadas por envolvimento na primeira ofensiva lançada pelo Hamas em território israelense, nove foram “imediatamente identificadas e demitidas”. O representante ainda confirmou que um dos suspeitos morreu, enquanto a identidade de outros dois está sendo analisada.
O antigo porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos, Chris Gunness, também se pronunciou, avaliando que há um “ataque político coordenado” contra o órgão.
“Os israelenses disseram que não podem vencer a guerra em Gaza a menos que o Acnur em Gaza seja dissolvido. Que sinal mais claro você deseja?”, questionou.
Com 13 mil funcionários ativos, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos é a principal organização que ajuda a população de Gaza em meio ao desastre humanitário. No momento, mais de 2 milhões de habitantes, dos 2,3 milhões totais, dependem do órgão para “pura sobrevivência”, incluindo comida e abrigo.