No segundo dia de audiências na Corte de Haia, os representantes de Israel rejeitaram o processo instituído pela África do Sul que acusa seu Estado de cometer genocídio na Faixa de Gaza, e associaram a denúncia sul-africana como sendo um “panfleto”.
“A África do Sul apresentou um quadro factual e jurídico profundamente distorcido. Todo o caso se baseia em uma descrição deliberadamente sem contexto e manipulada da realidade”, disse o conselheiro jurídico do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Tal Becker, nesta sexta-feira (12/01).
O representante israelense acrescentou ainda que “se houve atos de genocídio, eles foram perpetrados contra Israel”, acusando o grupo de resistência palestina Hamas — tido para o governo do premiê Benjamin Netanyahu como “principal alvo” do conflito — de cometer “massacre, mutilações, estupros e sequestros”.
Em uma tentativa de justificar seus argumentos, Becker exibiu um áudio supostamente gravado em 7 de outubro, em que um suposto integrante do grupo palestino “celebra” os ataques contra judeus. Reproduziu também uma entrevista na qual um dirigente do Hamas promete mais ataques até “aniquilar” Israel.
“Israel luta contra a desumanidade do Hamas”, afirmou o conselheiro, retomando a tese de autodefesa utilizada pelo governo ao longo da guerra, e chamando a ação sul-africana de “panfleto”.
Twitter/Sam Yousseff
Forças israelenses tiram uma foto de lembrança em frente à escola das Nações Unidas em Gaza, depois que ela foi incendiada
Denúncia de genocídio
Com o agravamento do cenário na Faixa de Gaza, a África do Sul formalizou um documento que acusa Israel pelo 'genocídio' cometido contra os palestinos e levou à Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU), sediada em Haia, na Holanda.
O texto, que começou a ser analisado em audiência nesta quinta-feira (11/01), pede que a CIJ declare que o governo israelense violou a Convenção para Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio durante os ataques contra o grupo de resistência palestina Hamas, na Faixa de Gaza.
No primeiro dia de audiências, o país denunciante mencionou a falta de “impunidade” contra Israel, o que teria encorajado suas forças militares a “repetir e intensificar seus crimes contra a humanidade na Palestina”.
Acrescentou ainda o risco do Estado judeu de continuar “se envolvendo em atos de genocídio”, apelando aos juízes para que ordenem “urgentemente” a suspensão das operações militares israelenses no território palestino.
Em um pouco mais de três meses desde a intensificação da guerra contra os palestinos, o Ministério da Saúde de Gaza confirmou que quase 24 mil pessoas foram mortas. Desse número, a ONU revela que mais de 70% das vítimas são crianças e mulheres.