Após o bombardeamento do hospital Ahli Arab, em Gaza, na Palestina, na última terça-feira (17/10), começou uma corrida de acusações mútuas, entre Palestina e Israel, sobre a autoria do disparo, que matou 471 palestinos que recebiam tratamento médico na unidade, de acordo com o Ministério da Saúde local.
Projeção óbvia, os palestinos imputaram a Israel a culpa pelo ataque desde que a bomba explodiu. Desde 7 de setembro, os israelenses bombardeiam a Faixa de Gaza e já mataram 3.542 palestinos de lá para cá, segundo dados – novamente – do Ministério da Saúde de Gaza.
Ato contínuo, manifestantes pró-Palestina foram às ruas no Líbano, Irã, Jordânia, Egito, entre outros países. As imagens da tragédia humana provocada pelo atentado terrorista de Israel rodaram o mundo, e a opinião pública se inclinou contra os israelenses.
Após ataque ao hospital, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto no país, e o porta-voz da Defesa Civil Palestina, Mahmoud Basal, atacou o governo do israelense Benjamin Netanyahu.
“Testemunhamos tragédias em vários ataques sofridos, nos últimos dias e em anos anteriores, mas nada parecido com o que vimos hoje (17/10). O que aconteceu esta noite equivale a um genocídio”, protestou Basal.
Vídeo com horário divergente
O alto escalão da Força de Defesa de Israel (FDI) começou, então, a tentar atribuir a autoria dos disparos aos palestinos. O governo de Netanyahu se manifestou horas após o bombardeio, informando que a análise de imagens da Al Jazeera provariam que o ataque partiu da Jihad Islâmica, grupo armado que atua dentro de Gaza, que teria disparado um míssil que falhou.
Twitter/Husam Zomlot
Após ataque ao hospital, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto no país
No entanto, os vídeos usados pela FDI para incriminar a Jihad Islâmica tinham uma incongruência. O horário marcado nas imagens é 18h59. O hospital foi bombardeado 19h50. Após o erro ser flagrado, os vídeos foram deletados das redes sociais do governo.
Em seguida, o porta-voz da Jihad Islâmica, Daoud Shehab, negou que o grupo tenha disparado o míssil. “O inimigo sionista está tentando fortemente fugir da responsabilidade pelo massacre brutal que cometeu ao bombardear o hospital”, disse.
Áudio falso
Na manhã desta quarta-feira (18/10), o governo de Israel divulgou um áudio do que seriam dois integrantes do Hamas conversando sobre o ataque. Na gravação, eles atribuem o ataque à Jihad Islâmica.
“Estou dizendo que essa é a 1ª vez que vemos um míssil como esse caindo e é por isso que estamos dizendo que ele pertence à Jihad Islâmica Palestina”, afirma um dos integrantes do Hamas, segundo o governo israelense.
O Channel 4 News, emissora inglesa, entregou a gravação para especialistas. Segundo Alex Thomson, correspondente do canal, técnicos constataram que o áudio seria falso, pois os dois homens que dialogam não possuem o sotaque de Gaza, e a pronúncia do idioma “é absurda”.
Promessa israelense de ataque a hospital
No dia 14 de outubro, o hospital Ahli Arab já havia sido alvo de foguetes israelenses. Moradores de Gaza afirmaram à CNN que o governo de Netanyahu teria avisado médicos de que a unidade poderia ser alvo novamente nos próximos dias.
Enquanto tenta comprovar que não é responsável pela tragédia do Ahli Arab, Israel não nega a autoria de bombardeios em outros 11 hospitais na região da Gaza. O levantamento foi feito pelo jornal The Washington Post.