O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estimou nesta quarta-feira (31/01) que cerca de 19 mil crianças ficaram órfãs ou sozinhas, sem qualquer adulto para cuidar delas, na Faixa de Gaza.
A informação foi divulgada pela BBC, que entrevistou Jonathan Crick, chefe de comunicações do Unicef Palestina.
De acordo com Crick, outros menores foram encontrados em postos de controle israelenses, em hospitais e nas ruas. “Os mais pequenos muitas vezes não conseguem dizer o seu nome e mesmo os mais velhos costumam ficar em estado de choque”, detalhou.
Crianças palestinas enfrentam traumas graves como resultado do bombardeio israelense na Faixa de Gaza. O sistema de saúde de Gaza está em colapso, e isto inclui os seus serviços de saúde mental. No dia 06 de novembro passado, o único hospital psiquiátrico de Gaza foi bombardeado pelas forças israelenses. Além disso, as seis clínicas comunitárias de saúde mental que atendem milhares de pacientes em Gaza não estão funcionando devido aos ataques aéreos.
Antes do último ataque de Israel, os palestinos em Gaza e na Cisjordânia já sofriam traumas graves devido a ataques anteriores. Um relatório de 2022 realizado pela organização sem fins lucrativos Save the Children descobriu que 80% das crianças relataram sentir medo, ansiedade, tristeza e pesar constantes. Mais da metade dos entrevistados já havia pensado em suicídio.
Rabajogli/Flickr
Muitas crianças foram encontradas sob escombros em Gaza
Crianças de Gaza sob cerco
As crianças palestinas são sujeitas a violência brutal com mais frequência e numa escala mais ampla do que os jovens israelenses. Essa violência é a política oficial do Estado de Israel. Mais de 1.400 crianças palestinas foram mortas por soldados ou colonos israelenses desde até os anos 2000 antes da eclosão da guerra em Gaza outubro passado, de acordo com a Seção Internacional de Defesa para Crianças-Palestina (DCI), um grupo com status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, UNICEF, UNESCO e Conselho da Europa.
A violência é constitutiva do sionismo e de todos os projetos coloniais. Como nos lembra o autor Frantz Fanon, “o colonialismo não é uma máquina pensante, nem um corpo dotado de faculdades de raciocínio. É a violência em seu estado natural.” E que a violência colonialista não faz distinção entre combatentes e civis – ou entre adultos e crianças.
Que tipo de democracia mata crianças?
A Defesa Internacional das Crianças calcula que as forças israelenses matam uma criança palestina a cada quinze minutos. Cada dia parece trazer um novo recorde sombrio.
Desde que a campanha de bombardeios começou, as crianças em Gaza pagaram o preço mais alto. Israel massacrou mais de 10 mil crianças palestinas; outras centenas permanecem soterradas sob os escombros. As crianças em Gaza escrevem os seus nomes nas mãos para serem reconhecidas caso sejam mortas.
Mesmo antes da intensificação dos bombardeios, a Anistia Internacional publicou um relatório que encontrou “evidências contundentes de crimes de guerra, à medida que os ataques israelenses destroem famílias inteiras em Gaza”.
Não é a primeira vez que a infância de Gaza está significativamente representada nas estatísticas de vítimas fatais. Em 2014, a Operação Margem Protetora de Israel matou 2.251 palestinos em 50 dias, incluindo 551 crianças. A Operação Chumbo Fundido, que durou 22 dias em 2008-2009, massacrou cerca de trezentas crianças, além de 1.100 adultos.
O assassinato em massa de crianças palestinas por um Estado que se diz obcecado pela “precisão cirúrgica em operações militares” levanta dúvidas para o “exército mais moral” do mundo. Mas, no final, que maneira mais adequada de fazer desaparecer um futuro palestino do que matar a infância da Palestina?
De acordo com a ONU, durante a Grande Marcha do Retorno – os protestos em março de 2018 ao longo da fronteira de Gaza com Israel – 46 dos 214 palestinos mortos pelos militares israelenses foram crianças. Dos mais de 36.100 feridos, quase 8.800 eram crianças, e a ONU previu que cerca de 22.500 crianças sofreriam problemas de saúde mental relacionados com as manifestações da Grande Marcha.
Atualmente, há números crescentes de crianças em Gaza que perderam ambos os pais e, em alguns casos, toda a sua família, na guerra entre Israel e Palestina, e que estão sob cuidados por parentes distantes, amigos ou mesmo estranhos.
(*) Com ANSA