O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, declarou neste domingo (12/11) que “todo o esforço para libertação dos brasileiros, desde o dia 7 de outubro, de Gaza e Israel, foi feito pelo governo do presidente Lula”, negando qualquer relação entre a repatriação dos cidadãos da área de conflito e a reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine.
“Sob orientação do presidente, eu fui o interlocutor dessas operações e isso resultou na exitosa conclusão desse acordo. Além disso, acho que é desinformação”, considerou o chanceler brasileiro em coletiva de imprensa no Itamaraty, após ser questionado sobre a possível influência de Bolsonaro nos planejamentos de resgate.
A resposta de Vieira decorre do encontro entre Bolsonaro e Zonshine na Câmara dos Deputados, em Brasília, na última quarta-feira (08/11). Apesar da reunião ter foco em uma campanha contra o grupo palestino Hamas, apoiadores do ex-presidente relacionam o encontro como um esforço de Bolsonaro para resgatar os cidadãos que ainda não haviam saído da área conflituosa.
Zonshine é conhecido por suas ligações com a extrema direita. Com isso, Bolsonaro teceu alianças com figuras da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sua agenda vem se alinhando estreitamente com representantes da extrema direita brasileira, tem se esforçado para reforçar tais laços. No último mês, ele já se encontrou com figuras proeminentes do círculo bolsonarista, incluindo Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG), Carla Zambelli (PL-SP), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Julia Zanatta (PL-SC), André Fernandes (PL-MA) e Cabo Gilberto Silva (PL-PB).
Quando questionado sobre Zonshine durante a coletiva, o chanceler de Lula respondeu “não o conheço”.
Wikicommons
Governo Lula repatriou cerca de 1.500 brasileiros das regiões de conflito desde 7 de outubro
‘Boa vontade’ de Israel e Egito
Vieira ainda falou na ‘boa vontade’ de Israel e Egito após o grupo restante de brasileiros na região cruzarem a fronteira de Rafah na manhã deste domingo.
“Se [a passagem] não aconteceu antes, não foi só com o Brasil, mas com todos os países. Havia uma lista e na medida que seus nomes foram recebidos, entraram em uma ordem de prioridade que foi seguida e atendida”, declarou o ministro classificando que as operações aconteceram “dentro do negociado e acordado com os lados envolvidos”.
Apesar da análise do chanceler, os brasileiros esperaram mais de um mês pela permissão das autoridades regionais para cruzarem a fronteira de Gaza com o Egito, em Rafah, e poderem voltar ao Brasil.
A situação levou organizações de direitos humanos palestinas, como a Al-Haq, a acusar Israel de “perseguir cidadãos brasileiros para fins políticos” uma vez que o Brasília se posicionou contra sua ofensiva em Gaza.
Vieira informou que o grupo de 32 brasileiros e seus familiares estão a caminho de Cairo, em uma viagem terrestre de seis horas. Na capital egípcia o grupo deve ficar hospedado em um hotel até a saída do avião que a Presidência da República colocou à disposição da repatriação na próxima segunda-feira (13/11), às 12h.
“Esse será o último voo de repatriação, totalizando cerca de 1.500 brasileiros repatriados de Israel, Cisjordânia e Gaza”, lembrou o ministro agradecendo o empenho do governo brasileiro e instruções do presidente Lula.
“A situação momentânea desses brasileiros está agora resolvida, mas a situação do conflito é gravíssima. O presidente Lula continua muito envolvido na solução da questão”, finalizou.