A declaração do presidente da França, Emmanuel Macron, sobre a possibilidade de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) enviar tropas à Ucrânia para reforçar a resistência contra o avanço da Rússia naquele território, gerou uma rápida e negativa resposta por parte de ao menos dez países da União Europeia, alguns dos quais também formam parte da aliança militar do Ocidente.
O pronunciamento do mandatário francês ocorreu nesta segunda-feira (26/02) e foi rebatido, horas depois, por algumas das mais altas autoridades da Alemanha, da Itália e da Espanha.
Durante um evento na cidade de Friburgo, nesta terça-feira (27/02), o chanceler alemão Olaf Scholz respondeu perguntas da imprensa local sobre o tema, e disse que “não haverá tropas terrestres nem soldados (da OTAN) em solo ucraniano”.
A porta-voz do governo da Espanha, Pilar Alegría, também afirmou nesta terça, em uma coletiva de imprensa, que a ideia de enviar tropas da OTAN à Ucrânia não terá o apoio do seu país. “Não estamos de acordo e acreditamos que devemos nos concentrar naquilo que é mais urgente, que é acelerar a entrega de ajuda material”, explicou a funcionária espanhola, em alusão à proposta de fornecer mais armas ao exército ucraniano.
Outro que contrariou Paris foi o chanceler da Itália, Antonio Tajani, ao qualificar a proposta de enviar tropas a Kiev como “uma ideia que por enquanto é apenas de Macron, e com a qual devemos ter muito cuidado”. Segundo o chefe da diplomacia italiana, a União Europeia “defende a Ucrânia, mas não está em guerra com a Rússia, e uma decisão dessas não pode ser tomada de forma leviana”.
Quatro países que possuem fronteiras com as nações envolvidas no conflito também se pronunciaram. A posição mais contundente foi a da Hungria, cujo chanceler, Péter Szijjártó, reforçou o discurso que o país mantém desde 2022: “não estamos dispostos a enviar nem armas nem soldados à Ucrânia, pois somos favoráveis a colocar um fim a esta guerra, e não a agravá-la ou ampliá-la”.
As demais nações fronteiriças que se posicionaram contra a proposta foram a Eslováquia (que possui limites terrestres com a Ucrânia), a Suécia (que tem limites com a Rússia) e a Polônia (limites terrestres com ambos os países). Também expressaram sua contrariedade com o plano de Macron os governos da Grécia, da República Tcheca e dos Países Baixos.
Proposta francesa de enviar soldados da OTAN à Ucrânia não foi bem recebida por outros países membros da aliança militar
Todos os dez países que reagiram são membros da União Europeia, mas apenas nove são parte da OTAN: a adesão da Suécia à aliança militar está bastante avançada em sua tramitação, mas ainda não foi totalmente concluída.
Críticas da oposição francesa
A proposta de Emmanuel Macron também gerou reação interna na França, onde os dois principais líderes opositores aproveitaram o tema para criticar o presidente.
A líder do partido de extrema direita Reordenamento Nacional, Marine Le Pen, afirmou que “Macron está querendo brincar de ser líder de guerra, mas é a vida dos nossos filhos que ele coloca em jogo quando apresenta sua ideia tão despreocupadamente”.
Por sua vez, o representante da frente progressista França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, considerou a declaração do presidente francês como “uma loucura”.
“Entrar em guerra com a Rússia neste momento seria uma loucura. Seria um conflito entre um grupo de potencias nucleares contra outra grande potência nuclear, e escalar em um cenário desses seria um ato irresponsável”, acrescentou Mélenchon.
O líder da esquerda francesa também disse que “já passou da hora de negociar um acordo de paz para acabar com a guerra na Ucrânia, baseado em parâmetros de segurança mútua”.