Há exatamente dois anos, o presidente russo Vladimir Putin declarava a “Operação Especial Militar na Ucrânia”, iniciando um conflito armado em larga escala sobre o território ucraniano, liderado por Volodymyr Zelensky.
A evolução da guerra e, por consequência, suas implicações na esfera global foram destaques nos primeiros meses daquele ano. No entanto, hoje o conflito se vê “estagnado”, da forma como reconheceram as próprias Forças Armadas de Kiev, no final de 2023. A última movimentação que ocorreu neste mês, porém, indicou mais uma derrota para a Ucrânia, com a retirada de suas tropas na cidade de Avdiivka, próxima de Donetsk.
Para a pesquisadora e especialista na política externa russa Rose Martins, essa mesma “estagnação” possibilitou esclarecer, política e economicamente falando, o “quadro de tensão das relações entre as principais potências internacionais”.
A Opera Mundi ela disse que Estados Unidos e a Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) são “atores nesse conflito travado em território ucraniano”. Isso por que, “além de o financiarem, nada fizeram para promover uma saída negociada”.
“A Rússia, por sua vez, mostrou que está em plenas condições políticas e militares de defender seus interesses nacionais estratégicos”, explicou Martins.
Já no âmbito econômico, um movimento “inesperado” se conformou. Apesar das sanções econômicas e financeiras impostas pelo Ocidente a Moscou, desde o início da guerra, somadas às anteriores já existentes, a pesquisadora avaliou que tais bloqueios “não foram capazes de paralisar a economia da Rússia, que em 2023 cresceu mais que os países da zona do euro e os Estados Unidos”.
Um levantamento divulgado neste mês pelo Serviço Federal de Estatísticas russo (Rosstat) revelou que o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia havia crescido 3,6% em 2023, próxima à taxa estimada pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico do país. Enquanto isso, os bancos ocidentais previam uma queda de 9% no PIB.
“De acordo com a primeira estimativa, o volume do PIB da Rússia em 2023 totalizou 171,041 trilhões de rublos [equivalente a cerca de R$ 9,32 trilhões] em preços correntes. O índice do volume físico do PIB em relação a 2022 foi de 103,6%. O índice-deflator do PIB em 2023 em relação aos preços de 2022 foi de 106,3%”, informou o Rosstat.
Martins ainda levantou a questão energética como um dos fatores que colocou a Europa para uma situação mais dramática, já que seus países se viram impossibilitados de comprar energia barata da Rússia, um dos principais produtores de petróleo e exportadores de gás natural no cenário global, tendo que, assim, recorrer a mercados terceiros e mais caros.
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Presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e da Rùssia, Vladimir Putin, durante reunião em Paris, em 2019
Os objetivos de Zelensky e de Putin foram alcançados?
“Não é exagero dizer que a Ucrânia é apenas um proxy nesse conflito que visa cercar a Rússia e promover sua exaustão militar e econômica”, afirmou a especialista a Opera Mundi, explicando que toda a estratégia da Ucrânia está “subjugada ao interesse dos Estados Unidos” e que, portanto, “os objetivos de Zelensky são os objetivos do presidente norte-americano, Joe Biden”.
Por outro lado, Putin previa o estabelecimento de uma zona segura para a Rússia, uma vez que, em dezembro de 2021, o país teve sua proposta de negociação sobre neutralidade da Ucrânia rechaçada pelos Estados Unidos, além da rejeição de manter a Crimeia, anexada em 2014, como território da Federação Russa.
“A Rússia não está em apuros econômico e militar que crie dificuldades no campo de batalha. Avançou no território e manteve esse avanço. Internamente, a gestão de Putin é estável e conta com o apoio da maioria da população”, avaliou Martins, uma vez que o país não está isolado no sistema internacional como se pretendia e continua membro ativo de diversas organizações multilaterais.
Haverá um fim para a guerra?
“A Rússia diz estar pronta para uma saída negociada, o que é compreensível pois já atingiu seus objetivos”, respondeu a pesquisadora, revelando que, por outro lado, a Ucrânia não tem como levar um conflito de alta intensidade contra Moscou sem apoio político e material dos Estados Unidos e da OTAN.
Apesar da inexistência de quaisquer indícios oficiais de que a guerra esteja perto do fim, as atuais circunstâncias do conflito indicam que Moscou leva uma vantagem.
De acordo com Martins, a Ucrânia não tem obtido resultados no campo de batalha, acabando por gerar um desgaste na propaganda de guerra, assim como em sua política interna, e dificuldade de apoio internacional.
Ao mesmo tempo, o Congresso norte-americano se concentra em pautas internas em meio a um importante ano de eleição, deixando a liberação de ajuda financeira à Ucrânia em outros planos.
“A dificuldade de financiamento da Ucrânia, sobretudo pelos Estados Unidos, pode colocar o país em condições ainda mais difíceis no campo de batalha. Esse é um ano eleitoral nos Estados Unidos, e Donald Trump, que é contrário ao prosseguimento da ajuda norte-americana à Ucrânia, tem grandes chances de vencer as eleições de novembro”, concluiu Martins.